É difícil traduzir em palavras minha temporada aqui na Índia. Do sufoco e do sofrimento dos primeiros dias a esta sensação gostosa de missão cumprida e felicidade, muita coisa aconteceu. Na minha vida profissional, muitas portas se abriram e aprendi muito. Na minha vida pessoal, muitas janelas se fecharam para sempre (num oportuno acerto de contas com o passado guardado) e aprendi mais ainda.
Todos os objetivos dessa viagem foram alcançados, mas a “vitória” não é só minha. Sem este blog, os recados e emails carinhosos e engraçados, as ligações de amigos e família na hora certa, tudo teria sido incrivelmente mais difícil. Se fosse agradecer a todo mundo, este post seria interminável, então vou citar apenas uma pessoa que me ajudou e apoiou desde o início, quando tudo não passava de idéias. Minha sorte na vida já é conhecida e esta pessoa é o cara com quem me casei. Alguns me “acusaram” de não citá-lo aqui no blog, mas não é verdade. Então, para deixar claro, MUITO OBRIGADA, Rodrigo, nada disso teria sido possível sem você. Sei que você passou por cima das suas próprias vontades pra me fazer feliz e por acreditar no meu sonho. Sei que este tempo foi interminável para você e te digo que você foi forte e corajoso e, mesmo tão longe, esteve comigo o tempo todo. Portanto, obrigada de coração por não poupar esforços para me ver sorrindo.
Voltando à Índia, a escolha não poderia ter sido mais acertada. Este país vai ser sempre um lugar onde vivi coisas incríveis, onde aprendi a ser mais generosa, a conviver melhor com meus defeitos e onde entendi que “el mundo es uma mierda, pero la vida es de puta madre!”, como bem definiu o Andreu Buenafuente.
Vou embora feliz e tranqüila e vou sempre querer voltar aqui para lembrar o bem que me fizeram meus 30 anos (que eu temia tanto!). Gostaria muito de trazer meus pais e irmãos aqui e tentar fazer com que eles entendessem o “Planeta Índia”, indecifrável à primeira vista. Muita gente me disse que tem vontade de conhecer a Índia depois de acompanhar o blog e meu conselho (sou contra conselhos!) é, simplesmente, venham!
Conheci algumas pessoas que vieram para cá atrás de espiritualidade ou alguma resposta para momentos difíceis e não encontraram mais que sujeira e pobreza. E também encontrei viajantes que vieram em busca de nada em específico ou de aventura apenas e encontraram a si mesmos. O bacana da Índia é este, cada um descobre e vive o país à sua maneira.
No meu caso, descobri o Islã (que me emociona às vezes), descobri também a amabilidade dos indianos e a minha própria, redescobri a importância de ter raízes. Como a Índia, sou um poço de contrastes: sou contra religiões, mas tenho mais fé no MEU Deus que nunca; sou cidadã do mundo, mas mais sãojoanense que nunca; estive sozinha e fui muito amada à distância.
Meus poucos amigos aqui também tiveram um papel fundamental. Sem os jantares e cervejas no Pebble Street com o Patrick, sem os debates sobre política, religião, Ocidente x Oriente com o Monis, sem a ajuda do Obaid e sem as conversas com a Barbara, Delhi não teria sido a mesma. Tão feia e suja no início, tão admirada no final. Pois é, tudo muda.
Volto para casa feliz, completa e centrada no meu objetivo maior (e tão simples): ser feliz. Volto para casa também com uns quilinhos a menos, com a capacidade auditiva afetada, com umas rugas a mais e a 24 dias de tornar-me balzaquiana. Além disso, muitas histórias para contar.
Este é o penúltimo post na curta vida deste blog, que terminará com as fotos e os “causos” da minha festa de recepção em Barcelona, com meus bons amigos de sempre.
PS: Tenho uma mãe ciumenta. Então, não por obrigação, mas de coração, tenho que agradecê-la. Ela também me apoiou desde o início e se preocupou como sempre, como toda mãe, como boa amiga.
Um grande beijo a todos, Helena.