quinta-feira, 29 de novembro de 2007

78 DIAS NA ÍNDIA

É difícil traduzir em palavras minha temporada aqui na Índia. Do sufoco e do sofrimento dos primeiros dias a esta sensação gostosa de missão cumprida e felicidade, muita coisa aconteceu. Na minha vida profissional, muitas portas se abriram e aprendi muito. Na minha vida pessoal, muitas janelas se fecharam para sempre (num oportuno acerto de contas com o passado guardado) e aprendi mais ainda.

Todos os objetivos dessa viagem foram alcançados, mas a “vitória” não é só minha. Sem este blog, os recados e emails carinhosos e engraçados, as ligações de amigos e família na hora certa, tudo teria sido incrivelmente mais difícil. Se fosse agradecer a todo mundo, este post seria interminável, então vou citar apenas uma pessoa que me ajudou e apoiou desde o início, quando tudo não passava de idéias. Minha sorte na vida já é conhecida e esta pessoa é o cara com quem me casei. Alguns me “acusaram” de não citá-lo aqui no blog, mas não é verdade. Então, para deixar claro, MUITO OBRIGADA, Rodrigo, nada disso teria sido possível sem você. Sei que você passou por cima das suas próprias vontades pra me fazer feliz e por acreditar no meu sonho. Sei que este tempo foi interminável para você e te digo que você foi forte e corajoso e, mesmo tão longe, esteve comigo o tempo todo. Portanto, obrigada de coração por não poupar esforços para me ver sorrindo.

Voltando à Índia, a escolha não poderia ter sido mais acertada. Este país vai ser sempre um lugar onde vivi coisas incríveis, onde aprendi a ser mais generosa, a conviver melhor com meus defeitos e onde entendi que “el mundo es uma mierda, pero la vida es de puta madre!”, como bem definiu o Andreu Buenafuente.

Vou embora feliz e tranqüila e vou sempre querer voltar aqui para lembrar o bem que me fizeram meus 30 anos (que eu temia tanto!). Gostaria muito de trazer meus pais e irmãos aqui e tentar fazer com que eles entendessem o “Planeta Índia”, indecifrável à primeira vista. Muita gente me disse que tem vontade de conhecer a Índia depois de acompanhar o blog e meu conselho (sou contra conselhos!) é, simplesmente, venham!

Conheci algumas pessoas que vieram para cá atrás de espiritualidade ou alguma resposta para momentos difíceis e não encontraram mais que sujeira e pobreza. E também encontrei viajantes que vieram em busca de nada em específico ou de aventura apenas e encontraram a si mesmos. O bacana da Índia é este, cada um descobre e vive o país à sua maneira.

No meu caso, descobri o Islã (que me emociona às vezes), descobri também a amabilidade dos indianos e a minha própria, redescobri a importância de ter raízes. Como a Índia, sou um poço de contrastes: sou contra religiões, mas tenho mais fé no MEU Deus que nunca; sou cidadã do mundo, mas mais sãojoanense que nunca; estive sozinha e fui muito amada à distância.

Meus poucos amigos aqui também tiveram um papel fundamental. Sem os jantares e cervejas no Pebble Street com o Patrick, sem os debates sobre política, religião, Ocidente x Oriente com o Monis, sem a ajuda do Obaid e sem as conversas com a Barbara, Delhi não teria sido a mesma. Tão feia e suja no início, tão admirada no final. Pois é, tudo muda.

Volto para casa feliz, completa e centrada no meu objetivo maior (e tão simples): ser feliz. Volto para casa também com uns quilinhos a menos, com a capacidade auditiva afetada, com umas rugas a mais e a 24 dias de tornar-me balzaquiana. Além disso, muitas histórias para contar.

Este é o penúltimo post na curta vida deste blog, que terminará com as fotos e os “causos” da minha festa de recepção em Barcelona, com meus bons amigos de sempre.

PS: Tenho uma mãe ciumenta. Então, não por obrigação, mas de coração, tenho que agradecê-la. Ela também me apoiou desde o início e se preocupou como sempre, como toda mãe, como boa amiga.

Um grande beijo a todos, Helena.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Coincidências

Cada vez eu acredito menos em coincidências, mas é incrível como coisas inusitadas acontecem na vida da gente. Ontem reencontrei, depois de 10 anos, uma conhecida de Juiz de Fora que estudou comigo na universidade. Através de um amigo comum (que ela tinha perdido contato), Érica soube que eu estava na Índia e entrou no blog. Ela me escreveu contando que vinha passar 15 dias trabalhando em Bombay e Delhi e dei meu telefone. Ontem ela me ligou e nos encontramos em Connaught Place. Só pela voz dela no telefone, eu soube exatamente quem era (dez anos sem notícia!!!) e ela não mudou nada.


Érica estava aqui com duas companheiras de trabalho francesas (ela mora em Paris há 10 anos) e passamos pouco tempo juntas, porque elas estavam cansadas e eu tinha que voltar pra casa sozinha, coisa impraticável depois das 22h para uma mulher. Mas foi legal revê-la, lembrei os tempos da universidade, dos meus 18 anos, das festas na faculdade de Comunicação... Vim para casa rindo e pensando que, graças a Deus, o tempo passa e a gente cresce, muda, nada melhor ou pior, só diferente.


Fora isso o dia foi bem legal. Terminei um trabalho que estava pendente, consegui achar um livro que buscava há tempos sobre as estatísticas dos jornais indianos e fui ao cinema para relaxar um pouco. Vi Elizabeth, mas não me entusiasmou muito. Minha preocupação agora é como vou levar todas as coisas que tenho para Barcelona, sendo que a companhia aérea permite apenas 20 quilos. Tenho muito mais que isso, só o peso dos livros é um absurdo... Mas eu vou dar um jeito.


Hoje vou sair com uma professora da faculdade para tirar umas fotos e de noite devo jantar com uns amigos. Não quero escrever muito porque ando meio sensível e choro à toa, quero que sábado chegue logo, mas também quero aproveitar cada minuto aqui. Também não quero filosofar ou escrever sobre o fim da viagem. Prefiro deixar algumas fotos que eu gosto.


PS: Baby, é verdade que é você quem vai fazer o papá pra mim???? Oba!!!! Precisamos conversar, muiiita saudade.











segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Tanta coisa aconteceu...

Este pobre blog anda meio abandonado, eu sei, mas a vida aqui anda muito agitada e eu, super feliz por voltar a casa, mas triste por deixar esse país alucinado. Já sinto saudade e, para piorar, conheci um montão de gente bacana nas últimas semanas – o que só aumentará a minha saudade. Além disso, as novidades destes últimos dias foram o primeiro e divertido jantar que tive com Obaid Siddiqui, meu tutor aqui, e um terremoto. Isso mesmo, a terra tremeu em Delhi!

Claro que não foi nada espetacular ou devastador, mas eu fiquei com medo mesmo assim.
Aconteceu na madrugada de domingo para segunda, por volta das 4h. Estava dormindo e, de repente, acordo com a cama, as portas e os móveis tremendo e um barulho alto. Poderia comparar com quando passa um trem subterrâneo e os que estão em cima sentem (mas foi muito mais forte que isso). Fiquei com medo porque não sabia se era o primeiro tremor de uma série e também porque não confio nas construções capengas da Índia. Pelo visto, isso não é coisa normal aqui, porque meus 3 amigos me ligaram imediatamente para saber se estava tudo bem.

Sim, está tudo bem, muito bem. Tive um fim-de-semana tranqüilo e gostoso, estou feliz por ter vindo e estou feliz por voltar. Esta loira da foto é a Barbara, uma psicóloga tcheca que conheci e ficamos amigas nas últimas semanas. Ela está viajando pela Índia e Nepal estudando meditação e yoga e editando um livro de um guru que vive nas montanhas do Nepal. Coisa de louco! Nossas conversas são intermináveis e ela acha que somos velhas conhecidas de outras vidas. Não sei nada disso, só sei que é mais uma para a minha lista de coisas e pessoas das quais sentirei falta.

Foto feia e mal feita, mas a unica que tenho

Voltando ao jantar com Obaid, foi a primeira vez que nos encontramos fora da universidade desde minha primeira semana aqui. E os dois reconhecemos que foi uma pena ter esperado tanto tempo para sair e conversar. Contei para ele minha experiência aqui, meus avanços na tese, meu “descobrimento” do mundo islâmico (ele é muçulmano), dos poucos e ótimos amigos que fiz, da minha viagem com o Rodrigo. E ele me contou do trabalho dele na BBC e dos 10 anos em Londres (com lágrimas nos olhos algumas vezes), da mulher que é Sikk (a religião dos que usam o turbante, para simplificar as coisas) e da filha que estuda em uma escola católica! Volto para casa deixando todas as portas abertas aqui e com um amigo a mais. Confesso que no início a cara brava dele me assustou; ele quase nunca sorri e os alunos na faculdade têm mais medo dele que do diabo.

Fora isso, ontem (segunda), sofri à distância com o primeiro exame de homologação do diploma do Rodrigo em Barcelona. Das 8 matérias que ele tem que apresentar, o objetivo dele era aprovar pelo menos uma – e ele conseguiu (talvez mais que isso, vamos saber hoje)! Então, todo o sofrimento valeu a pena.

Hoje ainda tenho muito trabalho, mas espero estar livre para aproveitar um pouco Delhi na quinta e na sexta. Amanhã devo sair com meus amigos, que querem se despedir de mim. É engraçado isso. Eles preparando a despedida aqui e Rodrigo e as meninas preparando minha festa de chegada lá. É sempre bom se sentir querida...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

“Paan”: toda uma instituição na Índia






Desde que cheguei, tem uma coisa aqui que me chamou a atenção desde o início. É o “paan”, essa mescla de espécies amargas e doces e envoltas numa folha comestível que os indianos sempre comem depois das refeições. É digestivo e também usado como refrescante bucal (o chiclete deles, para fazer uma comparação grotesca). As barraquinhas que vendem paan estão em qualquer esquina. Dizem que uma das substâncias (o betel) é ligeiramente narcótica e alguns “viciados” comem paan da mesma maneira como os fumantes não deixam o cigarro. O consumo por muitos anos deixa os dentes podres e, quando li isso, entendi porque muitos indianos têm os dentes negros, negros.

Em muitas barraquinhas, o paan é feito “em série”, ou seja, é só chegar, pagar e comer. Mas há lojas que vendem as espécies (as mais famosas são as de Benarés, onde tirei essas fotos) e o vendedor, pacientemente, me explicou e me ofereceu para provar cada uma delas. No final, ele fez um paan super especial para mim e foi difícil comer, porque você tem que colocar o “pacotinho” inteiro na boca, ficar mastigando durante séculos e estava muito grande e picante. Eles engolem tudo, porque o que dá nome ao refrescante é exatamente a folha de paan. Mas eu não consigo engolir não, mastigo, mastigo e depois jogo fora.

Em todos os restaurante, dos mais pé de chinelo aos mais elegantes, todas as refeições terminam com o paan, que eles colocam na mesa sem a folha e cada um se serve com a colher. O paan também é vendido em porções únicas, em saches e ficam pendurados como se fossem balas em todos os lugares do país. E, como balas também, há de várias marcas, cores e sabores. No entanto, há dois tipos básicos: o mitha (doce) e o saadha (com tabaco).

Ontem peguei pesado falando das mulheres e recebi alguns emails “tristes”. Então resolvi escrever sobre o paan, uma coisa indiana que eu gosto, que vou sentir falta e, exatamente nesta lojinha da foto, me diverti muito comprando paan com o simpático vendedor e sua filha.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O pior da Índia




Hoje eu vou falar da coisa que eu menos gosto aqui na Índia ou a única coisa que me deixa realmente indignada. Não são a sujeira nas ruas, a falta de respeito no trânsito, a poluição absurda, mas a maneira como as mulheres ainda são tratadas aqui. Estou longe de ser feminista (quero mesmo a desigualdade entre os sexos e que eles continuem mimando a gente!), mas ver as mulheres e meninas sendo tratadas como mercadorias pelos pais e depois como útero ambulante pelos maridos é revoltante.

Escrevo isso porque ontem li no The Times of India o caso de um pai que se casou com a filha de 15, com o consentimento da esposa e agora a garota está grávida! Vivendo em um vilarejo no norte do país, eles proibiram a garota de sair de casa para que os vizinhos não soubessem da gravidez. Mas foi inevitável, como toda mentira, e a notícia caiu como uma bomba no local. Tanto que a polícia teve que intervir para que os vizinhos não linchassem os pais. Também absurda é a maneira como ele convenceu a mulher a apoiá-lo: disse que tinha recebido uma mensagem do profeta Alá para casar-se com a mais velha das 3 filhas. Vou parar porque isso me dá náusea.

Com a globalização, os jovens estão tentando mudar isso e já se vê nas ruas garotas com roupas ocidentais, fumando, bebendo, trabalhando, mas ainda não muito poucas as que se atrevem, porque ficam “mal faladas” (êta coisa provinciana!). Aqui no meu bairro não é incomum ver essas meninas com burka apenas com os olhos descobertos. Minha companheira de apartamento, Lakshimi, é professora de História na universidade e me contou que um dia pediu a uma das alunas para ver seu rosto e a resposta foi: “não posso, professora, meu irmão está aí fora me vigiando e serei castigada se tiro a burka, mesmo sendo um pedido da senhora”. O sentido disso eu não sei.

A mesma Lakshimi, (esta sim feminista de carteirinha!) trabalha numa ONG que luta pelos direitos dos bebês do sexo feminino. Muitas nem chegam a nascer, porque os pais optam pelo aborto ao saber o sexo. E, segundo Lakshimi, as que nascem passam por situações tão absurdas como: comer o resto do que sobra das comidas dos irmãos (se não sobra, não comem); só os filhos vão à escola (a menina tem que ajudar nas tarefas domésticas); muitas jovens são trocadas por animais e casam-se antes dos 15 anos; trabalhar e estudar depois do casamento são coisas impensáveis, entre outras insanidades.

E não são apenas as indianas que sofrem não. Ser mulher e estar sozinha em Delhi é algo incômodo! Os homens te olham como se você fosse a última Coca-Cola no deserto, mesmo se você está com o corpo coberto. A pele branca aqui então é sucesso absoluto. A mulher pode ser muito feia, mas se for branquinha, não vai ter sossego. Se está com um ou mais homens num bar, táxi ou loja, por exemplo, os vendedores ou garçons simplesmente te ignoram, eles só se dirigem aos homens. Vida dura essa!

É uma sociedade extremamente machista e o pior é que, conversando com mulheres daqui, vejo que elas são resignadas e não têm esperanças de igualdade num futuro próximo. Melhor nem falar sobre as mulheres divorciadas e as lésbicas, que são simplesmente vistas e tratadas como lixo. Já os homens beijam-se, abraçam-se e andam de mãos dadas aqui, numa “adoração” mútua.

Bom, só para dizer que é muito bom ser mulher no Ocidente!!!!

domingo, 18 de novembro de 2007

Na reta final

Dhobi Ghat, Bombay


Dhobi Ghat

Saudades!


Trabalhando, trabalhando...

Comercio colorido em Darjeeling


Muito tempo que não apareço por aqui, eu sei. É que pode parecer que estou de férias pela Índia, mas a verdade é que trabalhei muito nas últimas duas semanas. Ralação mesmo! Agora estou de volta a Delhi e tudo me parece ainda mais estranho. Depois de conhecer um pouquinho mais da Índia, vejo a capital mais suja e caótica que antes. E vejo também o quanto eu gosto de estar aqui na minha “zona de conforto”. Espero que fique claro que todas as críticas que faço ao país não diminuem meu afeto pelo “Planeta Índia”.

Volto para Barcelona na semana que vem e isso tem despertado dois tipos de sentimentos antagônicos: estou ansiosa e super contente de voltar a CASA, ter minha vida de volta com Rodrigo, rever meus amigos, tomar uma cerveja com eles, conversar fiado, trabalhar na clínica, ir à universidade... mas também sei que poderia ficar aqui por muito mais tempo, há muito que conhecer e descobrir neste país que, segundo muitos dizem, será a “chave para o futuro da humanidade, porque sua população é a única no mundo capaz de entender a espiritualidade e de harmonizar as diferenças seguindo o conceito de unidade”.

Li isso num livro que comprei ontem sobre a Índia moderna escrito por um correspondente inglês do Financial Times que morou aqui por cinco anos. Não concordo com esse conceito de unidade não, porque falta muito (talvez todas as vidas e reencarnações) para que a igualdade e a não-violência pregadas por Gandhi sejam realidade aqui entre hinduístas e muçulmanos.
Apesar disso, quem consegue entender a Índia fica apaixonado, fascinado por esse país tão estranho e peculiar. Clichê total, mas é o que eu sinto, sem a pretensão de ter entendido a Índia.

Não poderia ter escolhido um país mais apropriado para fazer minha tese; não poderia ter escolhido cidade melhor para viver que Delhi (é pra rir! Outro dia uma psicóloga tcheca que conheci em Goa perguntou se eu estava com problemas familiares ou no casamento por ter vindo morar em Delhi. Segundo ela, os ocidentais que moram aqui só podem estar fugindo de algo – ou sendo muito bem pagos! hehehehehe); não poderia ter melhores experiências de vida das que tive.

No entanto, não pirei (era o medo da minha mãe), os problemas sociais mexeram muito mais comigo que a famosa espiritualidade indiana, não li Osho, não meditei, nao me vesti com saree e tentei sempre enxergar o que há por detrás dos problemas. Mesmo com todos os livros publicados sobre a Índia, duvido que um ocidental possa entendê-la sem passar um tempo por aqui. Uma coisa que me deixou maluca, por exemplo, foi a impontualidade dos indianos; eles simplesmente não conseguem cumprir horários. E eu, pontual a ponto de ser chata, quase infartava esperando por todo mundo aqui. Numa das entrevistas que fiz, tive que esperar por duas horas...

Estou escrevendo uma lista das coisas que fiz aqui na Índia que foram novidade na minha vida. Publicarei na semana que vem. Hoje é segunda e tenho que ir à universidade, conversar com meu tutor, organizar meus últimos dias de trabalho e aproveitar cada minuto. As fotos que coloco hoje são dos meus dias viajando: coisas bonitas que vi, saudades que tenho, lugares diferentes, como o “Dhobi Ghat”, esse local de lavar roupa coletivo, em Bombay, onde cinco mil homens vão diariamente lavar os milhares de quilômetros de roupa que chegam de todos os lados da cidade. O lugar é impressionante pelas cores e pelos golpes que eles dão nas roupas e lençóis.

Uma ótima semana a todos vocês.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Parentesis para a saudade de uma neta

15 de novembro de 2007. Hoje faz um ano que uma pessoa que eu amava com toda minha alma partiu para outro lugar e eu nao a vi. Mas nao tem problema, ela continua comigo aonde quer que eu va, dentro do meu coracao, como musa inspiradora.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Um paraíso depois do caos

Caminho para a praia
Não é so a gente que se refresca não!
Vendedora na praia
Pescadores em Benaulim
Foto para Rodrigo. Esses peixinhos ficam secando na estrada

Praia de Benaulim

Praia de Palolem (a mais famosa)

Palolem

Palolem

Minha pousada (verde, muito verde!)


É impossível falar de Goa e não usar clichês. Não sei se meus parâmetros mudaram radicalmente depois de 2 meses em Delhi e tudo que não tem poluição e buzina parece uma paraíso para mim, mas acho que não. O fato é que este lugar é tudo o que eu precisava!

Cheguei ontem (segunda) à tarde e a primeira boa surpresa foi o hotel, na verdade, uma pousada com jardins, árvores por todos os lados e uma grande piscina. Meu quarto é de uma simplicidade franciscana (ou gandhiana!), mas não importa, é limpo e não pretendo passar muito tempo nele.

Goa é o menor estado da Índia e é dividido em 3 zonas: Norte, Centro e Sul. No Norte, é onde os turistas vão atrás de sexo, drogas & rock and roll; é a parte mais popular e buscada pelos estrangeiros. No Centro é onde ficam a capital, o comércio mais forte e o aeroporto. E no Sul é onde estão as praias menos freqüentadas e paradisíacas. Segundo o guia, é para onde vão as pessoas mais velhas, as famílias com crianças e os que buscam tranqüilidade. É exatamente onde estou!

Meu povoado chama-se Benaulime os poucos habitantes vivem basicamente do turismo e da pesca. Na rua principal, só uma padaria, um mercado, um salão de beleza, um cyber café, mas várias agências de viagens e pousadas. De outubro a março, o lugar está cheio de turistas, a maioria, europeus e americanos.

A influência portuguesa aqui é visível na arquitetura, nos nomes dos hotéis e restaurantes (há “Furtado’s Beach House”, “Furtado Music”, “Furtado Shoes”) e na presença de igrejas católicas na capital – Panaji, que ainda não visitei. Aqui o catolicismo continua sendo uma religião importante. E nas ruas, as saias e roupas “ocidentais” superam os sarees.

As praias lembram as do Brasil (não tão bonitas, ok!), há coqueiros por todos os lados e aqui em Benaulim o turismo massivo ainda não acabou com o meio ambiente: são poucos os restaurantes na beira da praia e os ambulantes, apesar de ultra insistentes, não são muitos. Lembrei-me do Brasil porque as praias são imensas, é impossível ver onde começa ou termina (muito diferente de Barceloneta!).

Os habitantes daqui são extremamente amáveis e é o primeiro lugar na Índia onde alguém me ajudou e não cobrou nada. Isso não quer dizer, porém, que tudo aqui não gire em torno do dinheiro... Hoje tentei tirar uma foto de umas mulheres na estrada e elas ficaram bravas e diziam: “Picture for money! Give money! (sic)”.

Ontem (quarta) conheci a praia que dizem que é a mais bonita da região: Palolem, que fica ainda mais ao Sul. Vou parar de escrever porque acabou a luz e estou morrendo de calor. Para terminar, aqui vai um clichê, exatamente como comecei este post: Goa foi meu presente divino pelos meus 30 anos!

domingo, 11 de novembro de 2007

Bombay


Gateway of India

Hotel Taj Mahal
Uma cidade bem européia
Uma "cervejinha" no Leopold (estava na mesa ao lado!)

That's entertainment!


A Índia continua me surpreendendo. Nenhum lugar se parece a outro; nenhuma cidade lembra outra. Agora que estive nas 3 principais cidades do país – Delhi, Calcutá e Bombay – posso afirmar categoricamente: que bom que escolhi Delhi para viver estes 3 meses, porque se estivesse aqui em Bombay, não teria lido e estudado nem a metade do que fiz na capital.

Bombay são outros quinhentos. Bombay é Rio, é Barcelona e Delhi é São Paulo, é Madri! Quem me conhece sabe o que isso significa. Estou encantada com a cidade, não só pela modernidade, “limpeza” e os sinais de trânsito, mas pelo ambiente. Ninguém fica olhando para os ocidentais como se fossem fantasmas; os homens não olham “só” para os seus peitos; os casais andam de mãos dadas e se abraçam; na maioria dos lugares há papel higiênico nos banheiros e... há bares como no Brasil!

Escrevi esse post tomando uma cerveja no Leopold, que me pareceu uma mistura entre Bar da Lagoa e Cervantes, no Rio (será desespero minha comparação???). O garçom não parou de me fazer perguntas, mas tudo bem, já estou acostumada à curiosidade sobre minha vida.

Andei a manhã toda de ontem (domingo) pela cidade e as construções da época britânica fazem a gente se sentir numa cidade européia. Fui ao “Gateway of India” (todo um símbolo da cidade, de onde os ingleses partiram definitivamente rumo à Europa) e passeei por Khala Goda, a zona dos museus e galerias da cidade. Mas a única coisa que não vontade aqui é entrar em um museu. Para isso, Europa dá de goleada. Preferi andar pelas ruas e ficar abismada com a diferença em relação a Delhi.

Outra construção impressionante é o hotel Taj Mahal Palace & Tower. Curiosidade: orientado em direção ao porto e em frente ao Portão da Índia, foi construído em 1903 pelo industrial parsi J. N. Tatá, supostamente depois de que sua entrada foi negada em um hotel europeu da cidade por ser “nativo”. Há vários restaurantes e bares dentro do hotel e a parte de fora parece o Paseo de Gràcia, em Barcelona: lojas como Louis Vuitton, Montblanc, Moschino, Chanel, Versace, etc. Cadê a pobreza de Delhi?

Ainda não fui à praia (irei esta manhã) e sei que vou gostar ainda mais. Antes de falar do lado ruim, reproduzo aqui a definição de Bombay que está no guia – com a qual concordo 100%: “Apaixonante e carismática, Bombay (Mumbai) constitui o passado, o presente e o futuro da Índia misturados em uma urbe vibrante, super povoada e cheia de vitalidade, difícil de entender à primeira vista, mas tremendamente interessante”.

Como é o centro econômico do país e recebe milhões de turistas a cada ano, a malandragem aqui corre solta. E fui vítima do golpe mais imbecil do planeta, daí minha revolta no dia em que cheguei. O motorista do táxi que peguei no aeroporto, além de dar muitas e muitas voltas, trocou uma nota de 500 rúpias por uma de 100 e disse que faltava dinheiro. Troquei uma de 100 por outra de 500 e só percebi o golpe quando já estava no quarto do hotel. Senti-me tola e... norueguesa! heheheh

Fora isso, Bombay é tudo de bom. Para completar a manhã, me pararam na rua para fazer figuração em um filme de Bollywood! Eu e uns outros europeus que estavam passando pelo lugar de filmagem. Claro que não aceitei, mas esta cidade é muito divertida!




sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Viagem a Nepal

Quando o jipe pifou pela primeira vez
Adoro esta foto da fronteira. Eu estou na Índia, mas o guia (de vermelho) está no Nepal!
Hotelzinho na montanha (sem banheiro! O "banho" foi com um balde água quente)
Cozinha com fogão de lenha e muita gente!
Congelada? Eu?

Saquem o frio!
Eu, Rodri, Santosh (o guia) e irmãozinho
A gente com o Monte Kanchanzonga atrás

Por Rodrigo

Eu, nunca antes na vida, pensei em fazer uma aventura assim com a Helena. Sempre pensei que ela acabaria amarelando e eu, indo sozinho. Acho que ela não tem nem idéia do perigo mortal do tipo de direção em montanhas como esta, mesmo num 4x4. A estrada não é estrada propriamente dita, senão um caminho por onde sobem as mulas.

Nossa aventura começa em um Land Rover de 1960 com o motorista, o guia, a gente e dois irmãos adolescentes do guia (um cara chamado Santos, sabe-se lá o porquê!); o pneu estava tão careca que quase podia ver o ar dentro dele. A subida era de mais de 35 graus de pedra e barro e o motor do jipe estragou várias vezes no caminho, só chegamos ao final porque o motorista fez diversas gambiarras. Subimos 11 km entre precipícios e barrancos para alcançar o vilarejo onde dormimos (Tumling), a quase 3.000 metros de altura. O caminho de mulas não tinha mais de dois metros de largura: de um lado eram pedras e do outro, nem te conto!

Apesar do perigo, para mim é uma experiência espetacular, pois uma das minhas paixões é fazer 4x4. Senti-me super bem e relaxado em uma das nossas paradas no monastério de Cheetra, no Nepal, onde mora cerca de 30 monges budistas, e com as imagens majestosas do Himalaia e do frio gostoso (o mesmo que está acabando com a Helena!). hehehehe

Como este blog não é meu e sou apenas um intruso, não vou falar da hospedagem nem da comida (mas adorei e comi de tudo, gostei principalmente da maneira caseira como a comida é feita). Fiquem agora com a versão da Helena (congelada e branca depois do susto da subida. Tanto que perdeu a cor amarelada de todo o curry que anda comendo na Índia!).

Beijos e abraços do Rodrigo no Nepal.

PS da Helena: Rodrigo me ditou todo o texto em português, claro que fiz algumas correções, mas 80% é ele mesmo!
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Por Helena

Como sempre digo, Deus é muito bom comigo. No dia anterior à viagem, decidimos não fazer os 22 km a pé, já que não tínhamos roupa nem tênis apropriados, e sim pagar por um jipe. Foi a decisão mais sábia, porque tenho certeza de que só sairia daquela montanha numa ambulância ou no caixão! A subida era indescritível e o frio, inacreditável!

Mesmo no jipe, foi aventura demais pro meu gosto! Poucas vezes, porém, vi o Rodrigo aproveitando cada segundo e rindo de tudo. E eu só pensava: “Puta que pariu! Onde fui me meter?”. O carro estragou 3 vezes durante o percurso, que durou mais de 2 horas, e achei que teríamos que subir ou descer a pé. Cada um deve aprender seu limite – o meu é bastante reduzido no que diz respeito a aventuras. Subir uma montanha no Nepal no inverno não é coisa pra mim – mesmo em jipe! Realmente foi uma aventura única, porque não haverá uma segunda vez!

A ida ao monastério valeu muito a pena. É no meio do nada e é difícil imaginar como 30 pessoas podem viver em um lugar como aquele. Mais uma vez, a fé me comoveu e esta é a única explicação que vejo para a vida nesse lugar inóspito e longe de qualquer vestígio de civilização.

Chegando ao vilarejo – com o corpo todo doendo pelas pedras do caminho -, a paisagem é linda e me senti realmente privilegiada por estar vivendo isso. É uma “casa grande” com fogão a lenha e o cheiro da cozinha me lembrou o cheiro da roça em São João quando eu era criança. Havia uns turistas americanos e europeus que pararam para comer e descansar antes de continuar subindo. Admiro mais que nunca essa gente – mas também acho, mais que nunca, que lhes falta um parafuso! Nunca vou entender a graça de subir uma montanha com todas as condições adversas... (cabecinha limitada essa minha!).

Acho que estávamos e uns 3 ou 4 graus e estava congelada (saía fumaça da boca mesmo dentro do quarto). À noite, eles acenderam a lareira e, outra vez, comprovei que Deus é meu parceiro: não tínhamos tomado um dos vinhos que o Rodrigo trouxe e isso ajudou a suportar a noite. Quem guarda tem, como dizia meu avô Bastião!

Enfim, mais uma experiência para contar aos meus netinhos, mas eu gosto mesmo é de neon e óleo diesel. Com frio e com a bunda e o pescoço doendo, sinto falta de Delhi. Quem diria! O melhor de tudo foi a cara do Rodrigo ao ver o amanhecer no dia seguinte com as montanhas nevadas ao fundo. Por sorte, o dia estava claro e vimos o ponto mais alto da Terra (Monte Everest, com 8.848m) e o 3º mais alto (Monte Kanchanzonga, com 8.598m).

Já estamos em Delhi e amanhã (sábado) Rodrigo toma um avião para Barcelona e eu vou para a parte final das minhas andanças pela Índia: Bombay e Goa (praia e calor, porque ninguém é de ferro!). Dia 16 volto a Delhi, quando terei 2 semanas de trabalho ininterrupto e... casa!

Olha que coisa mais linda!

Entrada Observatory Hill (Darjeeling)
Templo Observatory Hill

Mantras em Observatory Hill

Monasterio de Ghoom (Darjeeling)
Interior do Monasterio de Ghoom

Cheetra Monastery (Nepal)

Interior Cheetra Monastery

Sala de meditacao em Cheetra Monastery


Cheetra Monastery


Os monasterios budistas sao uma coisa a parte na India e no Nepal. Deixo com voces as fotos lindas e conto pessoalmente nossa experiencia em dezembro.