domingo, 30 de setembro de 2007

A VACA


Estão vendo esta vaquinha aí da foto? Pois é. Aqui na Índia, ela vale mais que eu e você juntos! Se estou de carro e, por uma infelicidade, atropelo ou bato numa delas, NÃO É A VACA QUE VAI PRO BREJO NÃO, SOU EU QUE VOU PRA CADEIA!!!!!!!!!!!!!!!!

FALA SÉRIO!!!

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O domingo foi mais tranqüilo que os anteriores. Saí de Jamia e fui a um outro Community Center, Saket, e vi dois filmes no cinema: The contract, com Morgan Freeman e John Cusack, bonzinho, mas nada demais, e No reservations, com a Catherine Zeta-Jones e Aaron Eckhart. Fiquei com fome de comida e de romance depois de ver o filme, duas coisas impossíveis na minha vida agora. No entanto, hoje já é outubro e o Rodrigo chega aqui dia 27! O tempo, meu parceiro, está voando...

Almocei por lá mesmo e comprei 3 DVDs de filmes indianos, vou começar minha coleção de Bollywood. Não dá pra ver no cinema, porque a maioria é falada em hindu e não tem legenda. Mas os DVDs têm legenda em inglês, vamos ver. Ontem entendi que o “problema” é morar no bairro muçulmano mesmo, onde as regras religiosas são muito rígidas e as mulheres são apenas sombras dos homens. Neste novo CC, ninguém ficou me olhando como se eu fosse uma aberração; os casais andam de mãos dadas; as meninas vão de saia e vestido; as pessoas fumam na rua. Enfim, uma vida “normal”, em que eu me senti muito mais confortável com a “modernidade”.

Viver em Jamia tem sido uma experiência incrível, exatamente o que eu queria quando resolvi vir pra Delhi, mas vi que tudo poderia estar sendo bem mais fácil...

Amanhã é feriado nacional aqui: Dia do Aniversário de Gandhi. Mais tarde vou escrever sobre a importância dele aqui na Índia e sobre sua relação com o jornalismo.

Oba! É segunda-feira!

sábado, 29 de setembro de 2007

A Delhi que eu não conheço

Ontem (sexta), uma das manchetes do The Times of India era “Delhi é a melhor cidade para se viver, segundo pesquisa”. Claro que o âmbito da pesquisa era a Índia, mas mesmo assim! Segundo o jornal, Delhi tem a melhor infra-estrutura urbana, a melhor rede de transporte, os melhores hospitais, etc. Graças a Deus eu não precisei de nenhum hospital aqui e eles realmente podem ser bons. Mas peraí! A rede de transporte público aqui é uma porcaria. Os ônibus, caindo aos pedaços, vão abarrotados, com homens pendurados nas portas. Além disso, não existe ponto de ônibus aqui não, as pessoas sobem com o veículo em movimento mesmo!

Ainda não tive a oportunidade de andar de metrô, já ouvi falar que é moderno e confortável, mas está restrito a uma parte muito pequena da cidade, insignificante mesmo. O resto são os Otos, as bicicletas e os taxistas, que são mundialmente conhecidos por passarem a perna nos turistas...

Sobre melhor infra-estrutura, eu também tenho minhas críticas: aqui falta luz todos os dias, a coleta de lixo é inexistente em muitos bairros, limpeza é assunto proibido, o abastecimento de água é irregular... Delhi foi eleita a melhor para se viver e deixou para trás 48 cidades indianas, entre elas Bombaim e Calcutá, consideradas metrópoles cosmopolitas. Bombaim é a segunda melhor, e é lá onde se concentram as atividades industriais e comerciais mais importantes do país (onde a Tecnologia da Informação joga um papel crucial), fora Bollywood, que é impressionantemente importante no contexto nacional. Já Calcutá é mais conhecida por seus programas culturais e pelas desigualdades sociais que marcaram uma época. Antes sinônimo de pobreza absoluta, atualmente Calcutá tem áreas super modernas e avançadas.

Sei não... mas eu ainda não conheço essa Delhi e olha que optei por não falar da segurança, porque tem coisas que não entram na minha cabeça e me irritam. Minha opinião não é imparcial, eu sei, não conheço nenhuma outra cidade da Índia. Mas em novembro, depois de conhecer Bombaim, Calcutá, Darjeeling e Goa, vou voltar a falar nisso.

Pode ser que o restante do país seja muito mais caótico e que eu esteja olhando com olhos ocidentais apenas e, por isso, não vejo essa Delhi-boa-pra-se-viver. Mas eu tenho olhos brasileiros, não europeus, e ainda assim acho isso aqui uma zona de pai e mãe!!!

Mudando de assunto, ontem fui fazer compra com o Harum e aí está a minha foto com a figura. A coisa que eu mais gosto de comprar aqui é o abacaxi, que fica lindo como uma flor! E os caras na rua cortam super rápido. Eles não fazem isso por estética, claro, mas para tirar aqueles olhinhos negros que vêm na casca... Sei lá, frescura minha, preciso ver mais coisas bonitas!!!


3 horas depois

Depois de tanta coisa negativa, quero dividir uma coisa com vocês. Estou lendo um livro que se chama “The Indian Media. Illusion, delusion and reality”, que é uma coleção de artigos de consagrados jornalistas indianos da atualidade sobre temas variados. Um dos jornalistas, Raj Chengappa, editor da revista semanal India Today, escreveu um artigo cujo título é “Who gives a damn?” e fala sobre as reportagens mais significativas durante seus 28 anos de jornalismo. Aqui vou transcrever um trecho que traduzi livremente para o Português:

“No India Today, viajei de trem de Delhi a Agra para fazer uma reportagem sobre o boom do turismo doméstico em meados dos anos 80. Percebi que um casal de cegos com duas crianças que enxergavam perfeitamente estava sentado na minha frente. No Taj Mahal, fiquei emocionado ao vê-los andando dentro do palácio tocando as paredes para descobrir sua beleza. Na viagem de volta, estávamos outra vez no mesmo vagão e, quando chegamos ao destino, ofereci uma carona no meu táxi.

Rapidamente eu me dei conta de que Mangalsain Bhalla e esposa, o casal, tinham muito mais sentido de direção que eu. Quando o taxista virou à esquerda num cruzamento, Bhalla levantou a voz e perguntou ao motorista porque ele estava fazendo o caminho mais longo. Surpreso, eu perguntei a Bhalla como ele podia ter feito aquilo. Ele respondeu que tinha cronometrado a rota da estação até a sua casa e memorizado cada giro e cada volta, assim que ele sabia que o taxista estava jogando com eles. Quanto mais eu conversava, mais meu respeito pelo casal crescia por como eles tinham se adaptado àquela deficiência. Foi aí que eu pedi aos dois que me permitissem passar uns dias com eles para tentar fazer uma crônica sobre suas memoráveis vidas.

Na redação, meu editor, Aroon Purie, concordou em permitir meu trabalho sobre um tema tão abstrato. Raghu Rai, o fotógrafo mais renomado no meio jornalístico, interessou-se instantaneamente pelo tema e juntos publicamos uma emocionante reportagem que nos trouxe um imenso feedback dos leitores. Tínhamos mencionado que Bhalla necessitava um termômetro em Braille para checar se os filhos tinham febre quando eles adoeciam e que tinha sido impossível encontrar um em toda Índia. Choveram ofertas de todas as partes do mundo a essa simples necessidade. O mais memorável de todos os dias com Bhalla, no entanto, foi quando eu perguntei se ele sabia o que era a luz. E ele respondeu: “Eu não sei o que é a escuridão!”.

Nada mais por hoje. Bom sábado!

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Train Drives Through A Bangkok Market

Um jantar bombástico




Hoje vai ser impossível escrever muito. Estou me sentindo fraca depois da última noite, nada que vocês tenham que se preocupar, isso ia acontecer mais dia menos dia... Ontem à noite o Harum, o figura que trabalha aqui em casa, comprou comida e convidou nós 3 (eu, Prof. Khan e Lakshmi) para jantar. Eu tentei recusar o convite, mas aqui não aceitar um prato de comida é pior que xingar a mãe!

Harum é muçulmano e está jejuando neste mês do Ramadan. Portanto, o jantar, às 18h30, é um acontecimento depois de passar 14 horas sem comida ou copo d’água. A comida era um arroz com carne desses que se vendem na rua e se compra por rações. Eu percebi que não ia ser uma boa pra mim quando vi que o arroz veio numa dessas sacolas de plástico de supermercado e, pior ainda, tinha carne. Aqui só é aconselhável comer carne em restaurantes caros, porque não há nenhum tipo de controle sanitário, vacinas nas vacas, nada...

De todos os milhares de defeitos existentes, há um que eu não tenho: o de não saber falar não. Falar não é comigo mesmo, mas desta vez foi impossível e eu sucumbi frente à amabilidade do Harum. Além do mais, ele tava gastando o rico dinheirinho dele com a gente. Comi o arroz com carne, conversando com Deus simultaneamente (como fazem Dani e Cibele). Mas nem Deus conseguiu aplacar a fúria daquela comida!

Meia-hora depois de comer eu já me sentia mal. Sentia como se tivesse uma bomba no estômago e vomitei a noite toda. Agora estou aqui, fraquinha, fraquinha, tomando água e comendo iogurte com cereais... A única coisa que peço a Deus, a Alá, a Buda, a quem seja é que não me ofereçam mais um prato de comida, porque o negocio é feio!!!

Fora isso, está tudo tranqüilo. Fim-de-semana chegando e parece que não será tão ruim como os anteriores. Lakshmi, a indiana gente boa que mora comigo, me convidou pra jantar amanhã (sábado) e comer comida local. Também tenho muito trabalho que fazer aqui com meus livros...

Esta foto aí de cima da barraquinha com comida foi tirada na semana passada, mas eu não tinha postado ainda porque não sabia o que era essa comida parecida com cabelo de anjo. Ontem descobri: é uma massa fina e doce que os indianos misturam com leite e açúcar e comem apenas no café-da-manhã. A massa deve ser a mesma daqueles docinhos árabes e é vendida por quilo. Só não sei como eles partem, porque os “rolos” são gigantes!

A outra foto é de um “encantador de serpente” que, na verdade, é a maior enrolação. Os caras dopam as serpentes e arrancam os dentes afiados das pobres coitadas. Não há perigo ou mérito nenhum no que eles fazem, é só pra arrancar dinheiro de turista mesmo. Fora que as ONGs meio-ambientais alertam que esse tipo de cobra, encontrado apenas no Nepal, está em risco de extinção pelo “trabalho” dos encantadores. Eu, bobinha, pensei que era de plástico e levei susto quando a “coisa” se moveu!

Bom fim-de-semana a todos!

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Uma noitada em Jamia!

Como todo mundo está careca de saber, eu moro em Jamia, o bairro muçulmano de Delhi. E hoje eu vou contar minha primeira “noitada” na região em tempos de Ramadan!

Conheci um professor visitante na Guest House onde estava até semana passada chamado Patrick. Ele é alemão, já morou em Nova York e no Congo antes da Índia e trabalha no Instituto de Estudos do Terceiro Mundo. É a segunda vez que ele está morando aqui em Delhi, então sabe os lugares legais para comer e tomar uma cerveja.

A gente se encontrou às 18h (isso mesmo! Porque tudo aqui tem que acabar cedo para voltar pra casa com segurança) e tomamos um chá. Depois fomos a um pub (um pub!!!!!!!!!!!!!!!!) onde até às 20h30, a cerveja era 2 x 1. Tomamos duas cervejinhas e eu fiz questão de tirar essa foto pra colocar aqui no blog. Afinal, vocês estavam acompanhando meu perrengue pra encontrar uma garrafa de vinho aqui!




Depois fomos a um restaurante indiano super maneiro que não fica nada a dever aos restaurantes europeus. Uma carta de vinhos super cara, mas bem boa e todas aquelas comidas cheias de curry! Patrick escolheu tudo e comemos super bem. A entrada é esta da foto: um pão fininho e crocante com gergelim e essa cebola crua que é extremamente condimentada. Este outro prato colorido é: uma pastinha verde de iogurte com alguma erva; cebola crua agridoce deliciosa; jalapeño e uma outra pimenta que ardia só de olhar. (Baby, tirei essas fotos pra você e te prometo mais. Ontem eu estava mais concentrada em aproveitar cada segundo que qualquer outra coisa). O prato principal foi frango tandoori com molho de tomate, arroz e uma pasta de milho com vegetais gostosona! Como comi bem!





Fora isso, o papo estava ótimo, Patrick tem um montão de histórias pra contar e nos divertimos bastante contando nossas aventuras em Delhi, perrengues de cada um e nossa tentativa de viver como “locais”. Chegamos à conclusão de que é e será sempre quase impossível, porque as barreiras do idioma e da comida são praticamente intransponíveis.

Cada um tomou mais 4 cervejas e “dividimos” uma bicicleta para ir à casa. Sinônimo de rachamos um táxi! Cheguei em casa às 22h30 feliz da vida, sem nenhum problema!!! É difícil de acreditar que no Community Center tem lugares como esses dois onde fui hoje. Minha primeira impressão do CC foi nada além de uma pocilga cheia de mosquitos. Delhi me surpreende a cada dia!


PS: Rodri, seus comentarios me partem o coração! Falta um mes "apenas" pra voce chegar aqui! Estou te esperando.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Visita aos jornais e minha tentativa de aprender hindu




Ontem (terça) eu fui às redações de dois dos maiores jornais da Índia: The Times of India e Indian Express. Fui lá em busca do material pra fazer minha comparação com os jornais espanhóis e para conhecer também. Mas vou começar do começo, com a ida. Um indiano que eu conheci aqui na semana passada me pediu para ensiná-lo inglês. Eu falei que não podia me comprometer com ele, porque não tenho muito tempo livre, mas que podíamos uma vez por semana sentar para tomar em chá e conversar em inglês. E ele me disse que queria ser meu guarda-costas aqui e que tinha uma “bicycle” e poderia me levar onde eu quisesse! (Pri, ele não é fortão nem gay, só é feio de dar dó!!!! Adorei seu email).

Ontem liguei pra ele para não ter que ir sozinha às redações e chegar lá já estressada. Eu achei que ele tinha uma bicicleta dessas que têm um banquinho atrás, mas ele tinha uma moto. Lá fui eu naquela moto com as duas pernas para um lado só, porque mulher que se preza aqui não anda com as pernas abertas na moto. A sensação de insegurança é horrível, você não fica firme e o pior: só os motoristas usam capacete aqui, eu fui sem nada. (Se Rodrigo, super-politicamente-correto-no-trânsito, me visse, ia infartar!). Acabei chegando lá mais estressada do que se tivesse ido sozinha numa Oto. Mais que estressada, eu estava irritada e o garoto estava apenas me fazendo um favor...

Consegui menos do que esperava, porque o sistema informático de busca do Indian Express existe, mas não funciona. É aquela história do “tem, mas acabou”. Vou ter que reunir material usando Internet mesmo e lendo cada uma das edições online (disponíveis só até março). Já no The Times of India foi mais fácil e ainda consegui entrar em contato com um editor sênior para planejar uma visita “formal” à redação. Enfim, foi produtivo.

O único problema é que tomei um esporro fenomenal do guardinha quando tirei essa foto aí de cima, que mostra o interior da redação do Indian Express. Eu perguntei antes à recepcionista se podia tirar foto e ela disse: “poder não pode não, mas você tenta”. E claro que eu tentei! Na primeira tentativa, veio o guarda com uma cara de pouquíssimos amigos. Mas tudo bem, se ele me xingou, eu não entendi. A outra foto mostra a fachada do prédio onde ficam as sedes dos dois jornais. Eles ficam no mesmo prédio, apesar de serem concorrentes. É como se O Globo e A Folha dividissem o mesmo prédio. Achei estranho... A volta foi o mesmo stress! Agradeci muito ao Shiraz, mas disse que nunca mais subiria naquela moto!

Minha outra “aventura” do dia foi intelectual. Meu outro companheiro de apartamento é um senhor professor de Inglês e Lingüística aqui na universidade, Prof. Khan. Ele sente muita curiosidade pelo Português e sempre me pergunta frases e ontem eu resolvi ter algumas lições de hindu, porque é o fim da picada estar ou ir a um país e não saber, PELO MENOS, falar “obrigado” e “por favor”. Comecei com o por favor. E ele me disse que não existe uma palavra equivalente ao “please” em hindu. Mau começo!

Então eu quis saber como se fala “você” na língua deles. Com esta pergunta terminou minha primeira tentativa de aprender alguma coisa! Olha a resposta dele: não existe um você apenas. Há várias maneiras de dizer você: há um você quando se está com raiva; um você quando se refere a pessoas importantes; um você para se referir à esposa quando estamos no meio de outras pessoas; um você para se referir à esposa quando estamos sozinhos com ela; um você que denota respeito que deve ser usado pelas mulheres ao se dirigir ao marido... e a lista continua. Eu tentei, Prof. Khan, eu tentei!!!!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Tese, tese, tese… e dois “causos”


Graças a Deus, eu vim fazer minha tese em Delhi e morar num bairro muçulmano dentro da própria universidade. Isso significa todo o tempo do mundo dedicado aos estudos. Muito pouca distração e muitas horas de leitura, busca de bibliografia e pessoas para conversar a respeito. Minha mãe vai ficar orgulhosa, porque meu descaso com o doutorado no último ano foi total. Tinha outras prioridades em Barcelona e uma vida agitada, o que me impediu concentrar no que eu realmente gosto de fazer na vida: ler e escrever.

O que melhor resume minha vida aqui é esta foto acima: livros e jornalismo. Minha tese é uma comparação entre os meios de comunicação indianos e espanhóis, tomando como ponto de análise notícias e artigos de opinião sobre globalização publicados nos 6 primeiros meses deste ano em 6 jornais: El País, La Vanguardia e El Mundo (Espanha) e The Times of India, Indian Express e The Hindu (Índia, claro!).

Pouca gente tem o privilégio de ter dois tutores como eu, um aqui e outro na UAB. Os dois têm me ajudado bastante a delimitar objeto de estudo (tema e período de tempo), abordagem, bibliografia, contatos, etc. Demorei a começar, mas estou curtindo e isso é o que importa. Na minha vida nada funciona sem tesão. Tenho até final de setembro do ano que vem para entregar a tese (na verdade, tesina, porque é a tese de mestrado) e depois, 2 anos mais de ralação pra escrever a tese de doutorado. A mover el culo, Helena!

O centro onde estudo aqui, Mass Communication Research Centre, da Jamia Millia Islamia University, é bastante conceituado na Ásia e meu tutor trabalhou 10 anos na BBC de Londres e é um cara “espabilado”, conhece um montão de gente. Com tudo isso, espero terminar em um ano e, mais que tudo, que o resultado final não seja mera formalidade de final de curso. É nisso que eu estou batalhando.

Agora tenho mais ou menos uma rotina estabelecida aqui e tudo fica mais fácil. De manhã estou na faculdade e depois do almoço estou em casa estudando. Mas sempre aparece algo pra fazer e distrair a cabeça. Amanhã (terça), por exemplo, vou visitar a redação do The Times of India pela primeira vez. E ainda me faltarão visitar as redações dos outros dois jornais.

A segunda-feira foi produtiva e acabei mais um livro. Foi feriado em Barcelona, mas isso nem me abalou. Estou planejando uma viagem pra quando o Rodrigo estiver aqui e isso me animou bastante. Além disso, o calor sufocante parece que foi embora e o outono começa a mostrar sua cara. Muito vento e frescor pelas tardes.

Meu coração está começando a ficar em paz...


A India venceu o Paquistao ontem e e campea mundial de cricket depois de 24 anos de jejum! O pais foi ao delirio ontem, como a gente com o futebol! E eu continuo nao entendendo PN!

PS: quer ver duas coisas engraçadas? Eu sou paranóica com limpeza aqui, porque tudo é muito sujo. Na minha cruzada por uma alimentação sã, comprei frutas hoje, incluindo um abacaxi. Mas aqui eles vendem o abacaxi já descascado nessas barraquinhas de rua. Lavei o abacaxi com um litro de água mineral. Quando eu ia partir, o Harum se ofecereu para fazer a tarefa e eu, gentil e agradecidamente, deixei. Quando eu vou pegá-lo na mesa da sala, ele tinha cortado meu abacaxi em cima de um jornal velho lido e relido!!!! Que prato que nada! hehehehehehe
Outra dele: minha cama não tem colcha e só o lençol mesmo. Então eu sempre deixo uma roupa pra dentro de casa para não sentar ou deitar com roupa imunda de rua. Harum, cada vez que entra no meu quarto pra me perguntar qualquer coisa, se senta e cruza as pernas em cima do meu lençol!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Ele entra aqui e eu rio de mim mesma...

domingo, 23 de setembro de 2007

Uma boa semana pela frente


Quem me conhece sabe que eu não dou muita bola pra natureza. Ou melhor, que pouca coisa “natural” me comove, mas me apaixonei por esta árvore que fica dentro do Forte Vermelho que já mostrei pra vocês. É muiiiito grande e parece um bonsai gigante ou alguma árvore desenhada por computação gráfica em filmes como “O senhor dos anéis” ou “O labirinto do fauno”. Muito linda e me transmite um montão de boas sensações, perfeita para uma segunda-feira-cheia-de-energia em Delhi (quem me conhece também sabe que eu detesto segunda-feira... ou melhor, detestava).

Já fiz uma lista de tarefas de toda a semana, separada em a. tese; b. clínica; c. pessoal. E fiz um menu com todas as refeições até sexta-feira. Joder! Tô parecendo a Dani! Mas é que decidi me alimentar direito, comer em casa e dar adeus à Pizza Hut e McDonald´s. Ontem fiz mercado e comprei frutas, legumes, iogurte, etc. O mercado é para ocidentais e encontra-se de tudo, mas tem que estar disposto a pagar caro por produtos pouco comuns aqui como alface, creme de leite ou azeite de oliva. Uma lata de creme leite custa quase o que eu pago pelo meu quarto por dia! E a alface (minúscula) custa mais que o Big Maharaja Mc! hehehe

O domingo foi bastante tranqüilo, estudei, li e escrevi bastante. De manhã vi o filme Gandhi e chorei horrores. Adorei o filme, ver o espírito de um grande homem e entender um pouco mais a tensa relação entre hindus e muçulmanos, fora a atuação do Ben Kingsley! Depois do almoço fui ao mercado e passei no Community Center pra tomar um chá (mudança de hábitos!). Nada de muito emocionante, mas nada de sofrimento como no fim-de-semana anterior.

Tenho lido bastante sobre o jornalismo em geral e principalmente aqui da Índia. Achei livros impossíveis de encontrar no Ocidente e deixo aqui uma pergunta e uma conclusão sobre nossa (difícil e deliciosa) profissão:

“If journalists and journalism are so open to the influence of money, alcohol and land, how can they possibly work for the good of the public?”

“There is no retirement for politicians, journalists and donkeys”. (Prem Bathia)

Amanhã prometo escrever sobre a tese e mostrar a minha universidade.

Sábado à noite


Algumas imagens caseiras para matar a saudade...




Acabo de chegar em casa depois de um dia cansativo de andanças pelo mercado de Janpath, onde uma mulher fica doida com as roupas, bijus e badulaques indianos que a gente compra caro em euro ou real e aqui é baratíssimo. Fiquei pensando nas minhas amigas e na minha mãe... Tinha vontade de comprar tudo e de estar ali passeando com elas também. Isso não significa, porém, que não me diverti com minha nova companheiro de passeio por Delhi: a brasileira Ivana. Rodamos aquela rua toda e comprei minhas primeiras besteirinhas pra levar. No início é legal pechinchar com os vendedores, mas na metade do caminho a gente já está exausta de ter que “lutar” para pagar um preço minimamente justo. Turista tem mesmo é que se lascar! Aqui estão algumas fotos das minhas novas aquisições, tudo por menos de 20 euros!

Como nem tudo são flores nesta “cidade intensa”, como bem definiu Ivana, o sábado à noite vem arrebentando (ou arrebatando). Tinha saído de casa esta manhã com a seguinte missão: não voltar pra casa sem uma garrafa de vinho. Mas falhei! E aqui estou escrevendo sem molhar o bico e nostálgica... Pensando na vida, nas escolhas, no almoço japonês na casa do meu cunhado onde Rodrigo está agora, na estréia da Baby, na minha mãe e Vítor em LA, no Mateus, no meu pai e Pedro não sei onde... Na verdade, queria estar exatamente aqui, mas ainda falta algo, falta uma tranqüilidade que ainda não alcancei. Além de intenso, tudo aqui é difícil: comprar um pão não é fácil, circular pela cidade requer uma paciência tibetana, encontrar Internet é sorte, fugir do curry só nos fast food da vida... tudo isso numa cidade que simplesmente não está feita para uma mulher “sozinha”. Os homens te olham como se você fosse a última Coca-Cola no deserto e tudo isso faz com os que os dias sejam muito cansativos.

Depois de um super banho, resolvi estudar e escrever um pouco. E um dos meus únicos interlocutores aqui (um aluno da faculdade chamado Moris) me liga pra me dizer o seguinte: “Helena, não saia de casa. Está rolando um conflito entre muçulmanos e hindus perto da sua casa, há mortos, feridos e muitos policiais nas ruas. Não saia de jeito nenhum”. Ainda não saiu na TV o motivo do conflito, mas motivos são desnecessários para os fanáticos. Não ia sair mesmo, mas fiquei pensando: eu sou lá de São João Nepomuceno, que nem existe no mapa, o que eu tô fazendo aqui?

Não quero parecer pessimista ou dar uma visão negativa de Delhi, mas a realidade é dura e só dá pra entender vivendo o dia-a-dia deles aqui. O Oriente não é o Orientalismo, já nos ensinou Edward Said. A visão que nós, ocidentais, temos do Oriente não corresponde à realidade, é uma imagem ou um discurso criado (principalmente pelos europeus) para dominar, reestruturar e ter autoridade sobre o Oriente. Portanto, não estou reclamando, apenas conto o que vejo e como me sinto. Se alguém perguntar minha opinião sobre Delhi no dia de hoje, a resposta será: estressante e vibrante. No final da minha experiência, me façam essa pergunta de novo, por favor.

Uma hora e meia depois. Voltei agora de uma “confraternização” com meus companheiros de apartamento. E, surpreendentemente, dois indianos de mais de 50 anos e uma brasileira de 30, que nunca tinham se visto antes, morreram de rir juntos assistindo a um jogo de cricket! Eles riam das minhas perguntas idiotas e eu ria porque, mesmo com toda a explicação, assisti por mais de uma hora e continuo não entendendo bulhufas!!!! Só sei que é febre nacional herdada dos ingleses, como nosso futebol, e os jogadores são celebridades que se casam com modelos e ganham rios de dinheiro... O jogo é Índia x Austrália e os indianos estão todos em frente à TV sofrendo como os brasileiros em jogo contra a Argentina.

Um sábado a menos. É só não pensar muito no lado de lá.

sábado, 22 de setembro de 2007

A outra Delhi



Estas duas primeiras fotos sao do bazar.



A unica foto em que saio, estou com olho de peixe morto!


Ontem, sexta, finalmente fiz turismo por Delhi por pura casualidade. Cheguei para assistir a uma aula de Jornalismo Convergente e Obaid estava reunido com dois jornalistas ingleses da BBC, que estavam de visita na cidade. Era o último dia deles aqui e me chamaram para conhecer o centro histórico com eles. Oportunidade irrecusável para quem não sai do bairro islâmico e ainda não conhece nada da capital além de fotos.

Fomos de carro até o Forte Vermelho, este das fotos, que fica na Velha Delhi, onde o tráfico é ainda mais caótico. É a principal atração turística de Delhi e, mesmo assim, não vi quase nenhum turista ocidental. Deve ser por causa do extremo calor que faz aqui em setembro. Ontem estava especialmente quente e úmido e eu suava como nunca, coisa estranha no meu corpo. Delhi está mudando meu sistema biológico!!!!

Algumas informações sobre o Forte (em castellano, porque meu guia é espanhol): “Las paredes de piedra caliza se extienden a lo largo de 2 km y tienen una altura que oscila entre los 18 metros en el lado del río y los 33 metros en el de la ciudad. El emperador mongol Sha Yahan inició la construcción de este enorme fuerte en 1638 y no se terminó hasta 1648. Sha Yahan nunca consiguió trasladar la capital desde Agra a la nueva ciudad de Shahjahanabad, en Delhi, ya que fue derrocado y encarcelado en el fuerte de Agra por su hijo Aurangzeb. El Fuerte Rojo fue testigo del periodo de máximo esplendor del Imperio Mongol. La corte, sin embargo, no estuvo demasiado tiempo en Delhi, ya que Aurangzeb fue el primer y único de sus monarcas que reinó desde la actual capital de la India”.

O Forte é gigante e bem bonito por dentro, até dá pra perdoar as lojinhas na entrada, mas não a insistência desagradável dos vendedores. Paga-se 100INR para entrar e vale a pena passar umas horas lá descansando nos jardins cheios de estudantes depois de fazer um tour pelas construções.

Depois disso, fomos a um bazar ao ar livre de Delhi, que fica na entrada dessa mesquita aí da foto. Mas o calor era excessivo e nem deu pra curtir o lugar, fora que os vendedores te seguem por todas e te seguram pelo braço! Vende-se de tudo lá, de prato-feito a relógios; de vestidos a souvenirs; de relógios a toalhas de mesa. De lá pegamos o carro outra vez e fizemos todo o recorrido restante dentro do carro mesmo. Claro que estávamos com motorista local, acho que é praticamente impossível para um ocidental que está de passagem por Delhi dirigir dentro da cidade. Os trânsitos do Rio ou de São Paulo são a maior maravilha comparado ao que rola aqui em Delhi (sem falar na poluição auditiva, a buzina deve acompanhar o ritmo da respiração deles, uma coisa impressionante!).

De carro, conhecemos a zona comercial da cidade e herança dos tempos ingleses na capital: Connaught Place e aí conheci a OUTRA Delhi: construções modernas, turistas a mil, lojas gigantes, escritórios, hotéis famosos, bancos, etc. Depois passamos pela zona do Parlamento e pelo “Portão da Índia”, numa avenida gigante que me lembrou o centro de Paris! Lindo mesmo. Vou postar fotos outro dia, porque simplesmente foi impossível parar o carro. Um passeio super bacana para ver a outra cara da Delhi arcaica por onde eu costumo circular.

Na volta pra casa, cansada e suada, parei no Community Center pra usar Internet e comer alguma coisa. Aí foi meu erro. Começou uma chuva inacreditável (o período das monções termina no final de setembro) e fiquei ilhada na lanchonete. Comi, li, falei pelo telefone e nada da chuva passar. Delhi na chuva é ainda mais aventura! Cansei de esperar e peguei uma bici (dificílimo de encontrar uma livre e os caras cobram o dobro do preço pela chuva) e cheguei em casa molhada, imunda, esgotada... Quando eu entro pra tomar banho, acaba a luz! Aqui os apagões são constantes, ontem ficamos sem luz 3 vezes pela manhã e uma à noite e a duração média deve ser de uns 30 minutos. A luz voltou e resolveu todos os meus problemas, menos essa saudade desgraçada que me come nos fins-de-semana. Aqui prefiro segunda à sexta-feira...

PS IMPORTANTÍSSIMO: Baby, toda a sorte do mundo na sua estréia como chef em Barcelona. Estou super orgulhosa da minha amiga e torcendo muito por você. Tudo vai dar mais que certo, porque não há outra alternativa quando a gente faz as coisas com o coração. Estarei pensando em você esta noite e sonhando em comer a mousse de curry quando voltar pra Barna! hehehehe

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Segurança em Delhi e assuntos domésticos







Ao ler o The Times of India ontem (quinta), me senti menos turista-ocidental-com-medo-de-tudo. Isso porque uma das manchetes era “80% of city women feel insecure” e a matéria se referia a números de Delhi apenas. O estudo, levado a cabo pelo governo, constatou que as “piores” áreas para as mulheres são os shoppings e zonas comerciais. Também revela que 70% das mulheres sentem-se inseguras depois que anoitece. Este é o gancho que eu precisava para contar minha “aventura” de ontem.

Pela manhã, fui a um debate realizado na Academia de Estudos do Terceiro Mundo aqui mesmo na Jamia sobre “Globalização e desenvolvimento”. Um dos palestrantes era um professor de Ciências Políticas da University of Delhi e Obaid tinha me recomendado tentar conversar com esse cara. Pois bem, fiquei numa sala cheia de homem me olhando durante as 2 horas de palestras (parece que eles estão olhando para um fantasma!) e depois conversei com o professor, que resolveu me dar uma entrevista às 18h na sua casa.

Até aí, maravilha, voltando à vida de jornalista que tanto adoro. O problema era ter que ir à casa dele sozinha e voltar depois de escurecer. Cheguei lá sem problema, até porque uma indiana explicou ao motorista da oto onde eu queria ir. Mas a volta foi dura! Escuro, sozinha, numa zona onde nunca tinha ido antes, sem ter idéia do idioma e numa rodovia super movimentada na hora do rush. O professor se ofereceu para ligar para uma companhia de táxi, mas resolvi voltar sozinha e andar, como todo mundo, de oto. Tá na hora de parar de gastar dinheiro desnecessariamente com os taxistas, que me roubam descaradamente!

Morri de medo ao chegar na avenida e quase voltei à casa do professor desesperada atrás de um táxi! Quando estava quase voltando, consegui encontrar um oto vazio e disposto a me trazer ao outro lado da cidade. Cara, é muito stress! Cada vez que saio sozinha, sinto que perco alguns meses de vida. Não dá para relaxar um minuto e, em cada rua escura e vazia, meu coração dispara. Voltei pra casa sã e salva e isso é o que importa, mas decidi só sair sozinha quando for estritamente necessário. Foda-se a independência!

Ontem também conheci minha roommate, que é uma indiana de 52 anos chamada Lakshmi. Ela é divorciada (coisa bastante rara e moderna aqui) e casada pela segunda vez com um australiano. Morou anos na Inglaterra, fala inglês perfeitamente e o melhor: esteve dois meses na Bahia no ano passado e adorou o Brasil! Conhece Carlinhos Brown, Pelourinho, viajou pelo Brasil e adora caipirinha! Quando escutei isso, pensei: ela bebe! Tenho até convite para tomar um vinho com ela neste fim-de-semena aqui em casa mesmo. As coisas vão melhorando... Andar com fé eu vou!

A terceira pessoa que mora aqui é um indiano que está como “Visiting professor” no departamento de Inglês da universidade. Ele é meu tradutor quando quero entender ou falar alguma coisa com o povo daqui.

O cara mais figura da casa, no entanto, é o garoto que cuida do apartamento (este da foto ao lado do fogão). Seu nome é Harum e ele é o dono do sorriso mais contagiante de Delhi. Quando eu fico tensa (muitas vezes ao dia), é só olhar pra ele que relaxo na hora. Ele não fala inglês, mas a gente se entende super bem. É ele quem cuida da casa, faz compras e cozinha (ainda não me arrisquei a provar sua comida).

As fotos acima são as vistas do meu apartamento, que fica no bairro muçulmano de Delhi: Jamia. O lugar onde eu estou até que é bonitinho, tem verde e tudo. Mas ao redor é um caos absoluto, sujo e barulhento. Dizem até que é uma zona alegre, mas como estão no mês do Ramadan, as pessoas andam mais sérias, quase não conversam e fazem jejum enquanto há luz do Sol.

Fim de semana chegando, ainda não sei se é boa ou má notícia...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Balanço da primeira semana e algumas curiosidades


Uma semana depois e parece que estou em outro país, pelo menos é assim que me sinto na minha nova “casa”. Depois da sujeira, da precariedade e do Mickey e da Minnie (como diz a Baby) dos primeiros dias, agora estou “me achando” neste novo quarto. Aqui estão algumas fotos pra vocês verem. Tenho uma cama de casal, ar condicionado, banheiro e um armário arrumado! Além disso, a casa tem cozinha e tenho mais opções na minha “Jihad” pessoal contra o curry! Coloco também uma foto minha no quarto, porque pediram para ver a minha cara (né, Rodri?)!
Não foi só a casa que melhorou não. Meu astral está bem melhor e não penso em ir para o aeroporto a cada 3 minutos. Talvez uma vez a cada 3 dias, o que é um progresso incalculável! Estou conhecendo pessoas, ontem fui ao cinema (vi “Death of a president”, um documentário americano sobre o assassinato de George W. Bush que “aconteceu” no dia 18 de outubro de 2007! Bastante real para um fato não-verídico. Espero que não seja uma premonição – e isso não significa nenhuma simpatia por ele da minha parte), meu celular já toca e até já escuto música sem chorar!
Também meus estudos vão engrenando, achei livros impossíveis de se encontrar na Espanha ou no Brasil e meu tesão pelo tema que escolhi só vai aumentando. Amanhã vou contar um pouco mais da minha tese. Assim que, uma semana depois da fatídica chegada, estou bem e feliz!

Tenho algumas curiosidades para dividir com vocês:


1) Esta foto ajuda a entender porque a Índia é tão suja. Aqui não existe vassoura, mas esse pedaço de pau que, simplesmente, não varre nada, apenas espalha a poeira (que não é pouca) e tira o grosso, porque aqui eles jogam tudo no chão, de guimba de cigarro a copo, prato, o que for. Até a minha casa é limpa com esse troço. E quando eles querem limpar de verdade, jogam água em tudo, aqui tem ralo por todas as partes – coisa inexistente na Europa! Que saudade da piaçava!

2) Minha comunicação com os indianos é bem engraçada. Refiro-me às pessoas “normais”, não ao ambiente universitário, em que todos falam inglês (não um inglês-inglês, mas um inglês-indiano, que vou chamar, a partir de agora, de “inglesiano”. Custa um pouco entendê-lo, o sotaque é fortíssimo e, por telefone então, nem pensar!). Mas voltando às pessoas normais, é o seguinte: a gente simplesmente não se entende! Eu falo em inglês e eles me respondem em hindu. Aí eu vou ficando ansiosa e falo em português ou castellano e eles me respondem em hindu. No final, a gente acaba morrendo de rir, porque é impossível mesmo! Tanto faz se eu falo inglês ou Pompeu e Godê (esta só os sãojoanenses entenderão!).

3) Uma coisa complicadíssima aqui é ir ao banheiro quando se está na rua. Quando tenho vontade de fazer xixi e não estou em casa, só penso: Fodeu! Quase prefiro fazer nas calças. Os banheiros são sujos, imundos, sem água ou papel, fora o cheiro de curry (de novo, Pri!).

4) Falando de coisas difíceis, não posso deixar de mencionar a água potável. Claro que só bebo água mineral, até mesmo a maioria dos indianos. Mas nego aqui dá nó em pingo d’água e já comprei um montão de garrafinhas alteradas, reaproveitadas mesmo. Elas parecem lacradas, mas não estão. Por isso, todas trazem no rótulo: “Crush the bottle after use”, hábito que adotei fielmente.

5) Além da bicicleta, que já mostrei, agora tenho um novo e mais “moderno” meio de transporte para longas distâncias. É o autorickshaw, conhecido apenas (e carinhosamente!) como “Oto”.


Ontem peguei meu primeiro oto, com os brasileiros Edson e Ivana, para ir ao cinema. Segundo o povo daqui, é o mais barato e seguro (que????) meio de transporte em Delhi. Como tudo aqui, cada corrida tem que ser exaustivamente negociada com o motorista (eufemismo para “bate-boca”). Antes de subir em um, eu achava que não caberíamos os 3, mas eles me falaram que vão até 11 pessoas nesse carrinho de Playmobil! Fala sério!!!

Recados: Let, vc ligou certo sim, mas tinha com o telefone apagado porque estava num debate sobre globalizacao e desenvolvimento, vi as ligacoes depois... Liga de novo, porfa!!!!
Baby, manda as fotos sim! E nada de levar meu marido pra gandaia, hein? :)

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Brasileiros neste lado de cá!












Hoje comecei de verdade meu trabalho pra tese. Definimos os jornais que vou estudar, já estou buscando material e tenho muito trabalho para os próximos meses. Com a ajuda dos meus tutores, espero terminar isso até maio!
Finalmente coloquei fim à minha fase de mulher-muda e hoje conversei com bastante gente. Na verdade, foram eles que puxaram papo comigo e dei até “entrevista” para uns estudantes de jornalismo da rádio da universidade. A pergunta era como eu achava que a música podia ajudar a reduzir barreiras entre dois países em guerra, aplicado ao caso Índia x Paquistão por causa da Cachemira. Caralho! Eu nunca tinha pensado nisso e tive 5 minutos pra responder em inglês! Foi hilário, “embromation” total. Mas eles me agradeceram sem parar e falaram que estava ótimo... Acabei trocando telefone com um deles, que vai me apresentar a uma amiga para me levar ao centro de Delhi, porque ele disse que mulher não deve ir sozinha mesmo. Antes achei que poderia ser machismo, mas não é não, realmente não me sinto segura andando sozinha por aqui. Não é nenhum bicho de 7 cabeças, mas prefiro não arriscar.
Depois da reunião com Obaid, fui pro Community Center de novo. Meu “amigo” que me entrevistou me indicou um cyber que de verdade funciona e pude falar com um montão de gente. Sentadinha lá trabalhando, escuto alguém falando português. Foi demais! Conheci um brasileiro de Belo Horizonte, Edson, falei com a mulher dele pelo telefone e já temos planos para amanhã. Assim que, além deixar a mudez de lado, vou sair de casa para ir ao cinema!
Uma coisa que me incomoda profundamente e me deixa deprimida é a quantidade de crianças pedindo dinheiro nas ruas. Elas não apenas pedem dinheiro, vão te seguindo e seguram mãos, braços e hoje até meus pés. Me sinto super mal, porque sigo andando e cada vez se aproximam mais crianças. Hoje cheguei ao ponto de, sem saída, entrar em uma loja pra chorar e me acalmar. Mais uma vez fui aconselhada a não dar dinheiro nenhum, porque a maioria é explorada por adultos que lhes “roubam” o dinheiro no final do dia. É muito triste e ainda não sei como me comportar nessa situação. Isso não é novidade na minha vida, não sou européia, mas as crianças daqui têm um olhar de adulto, de dor, uma coisa tão profunda que me impede até mesmo de olhá-las nos olhos, por culpa, pena, impotência ou pura covardia...
Vamos às fotos. Estas são de um mercadinho perto da minha nova casa, para onde me mudo amanhã de manhã. Não vi nenhum SUPERmercado aqui, só essas lojinhas com mil coisas juntas e empoeiradas. Uma das coisas boas é esta prateleira lotada de sabonetes Lux! Para quem não sabe, sou a maior “importadora” de sabonete Lux da Espanha! As outras fotos são do meu antigo quarto. Não é nada demais, mas me salvou nos primeiros dias e, muito por “ele”, não larguei tudo e voltei pra casa.

PS: 1. Para a Let e quem mais quiser me ligar, o telefone completo é 0091 9971 781318.
2. Seba, por sua causa, vou ter que comecar a censura neste blog democratico! hehehehe Brincadeira. Escrevam o que quiserem (ou quase!).









segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Inicio da rotina






Gente, tentarei, a partir de agora, ser mais breve nos textos e postar mais fotos. E que tinha muita coisa para contar, fora o desespero! Estas fotos mostram o condutor do ciclorickshaw e eu - suada, descabelada, mas feliz da vida com minha "independencia"! Numa das placas azuis, sai "Jamia Millia", esta e a minha universidade.
PS: 1. Morro de rir com os emails de voces. "Gran Hermano da Helena", Marcelo???? Pegou pesado!
2. Acho que encontrei a explicacao de porque estou aqui. Segundo a minha mae, parece que ela implantou um chip de loucura nos filhos! hehehehe
Ao texto agora:

Pouco a pouco as coisas vão chegando no lugar e tomando seu rumo. Hoje foram duas grandes “conquistas”: consegui achar um lugar com acesso (lento) à Internet onde estarei todos os dias úteis de 10h às 16h (hora daqui) e decidi o lugar onde vou ficar este mês e outubro. É um apartamento para professores convidados da universidade. Dividirei o apê com 2 pessoas mais, um homem e uma mulher, ambos indianos. O quarto é legal e o mais importante: tudo é super limpo para os padrões daqui. Além disso, vou poder cozinhar e ter minhas coisas numa geladeira. Aqui só tenho duas alternativas, comida local ou fast food, e as duas são uma sacanagem com meu estômago!
Apesar de ter que dividir com duas pessoas mais, optei por este apartamento porque acho que aqui vou poder ser mais independente. Não gosto de ficar dependendo de ninguém para me levar nos lugares, trocar dinheiro, comprar comida, etc. Como mostra da minha “independência”, hoje saí sozinha de novo e voltei ao mercado das moscas. Como minha percepção mudou! No sábado fiquei chocada e evitei ficar lá sozinha, hoje meio que me senti em casa. Conversei com umas pessoas (mais troca de sorriso que outra coisa), comprei uma pinça (não foi fácil), tirei fotos 3x4 que precisava, almocei num fast food indiano e comprei comida pro jantar. Todo um êxito! Ainda andava com a boca fechada por causa dos mosquitos, mas estava mais relaxada e curtindo aquela confusão visual, sonora e olfativa.
Tirei foto dessas comidas de rua porque o Rodrigo me garantiu que quer comer tudo isso quando ele vier no mês que vem. Depois de ver como é feito, eu duvido muiiiiito que ele compre algo!
Tudo aqui é bastante barato, principalmente comida. Uma promoção do McChicken, por exemplo, com batata e Coca-cola, custa 119 INR, uns 2,20€... Ainda não fui à zona de turista, que é a parte inglesa da cidade, lá com certeza eles cobram preços pra turistas ocidentais! O legal (o mesmo que me assustou no início) é que estou numa zona da cidade que não tem um turista sequer. Não vejo ninguém com cara não-indiana. Estou vivendo e comendo como eles – pelo menos é o que eu acho!
A volta pra casa foi o mais maneiro. Finalmente decidi montar num “ciclorickshaw”, essas bicicletas que levam um ou dois passageiros na garupa. Aqui em Delhi tem milhares e é a forma mais econômica de se mover quando as distâncias não são grandes. Uma corrida custa 10 INR, que são como 0.20€. Sentei na carrocinha e me senti o máximo: livre e sem medo de andar por Delhi! A partir de agora, se depender de mim, os taxistas morrerão de fome! É toda uma aventura, porque eles vão correndo, não respeitam sinais (os pouquíssimos que existem) e buzinam e gritam sem parar. Queria ter tirado mais foto, mas não consegui me organizar a tempo: estava segurando pra não escorregar, com minha bolsa pesada, uma garrafa de água mineral e a comida pro jantar.
Enfim, um dia proveitoso. Fiz meu planejamento para a pesquisa do mestrado e amanhã conversarei com o Obaid sobre como será meu trabalho. Passei o resto da tarde lendo e escrevendo no quarto da universidade. Quem sabe o que me espera amanhã...

domingo, 16 de setembro de 2007

Um final de domingo surpreendente!






PS: A ordem das fotos e exatamente o oposto. assim que comeca pelo final. Obaid e o homem que esta no meio de todos (sentado). Este lencol branco e onde os homens rezam.

Bom, não pensava mais escrever neste domingo, porque o plano inicial era passar todo o dia no quarto lendo e escrevendo, até que o insólito aconteceu. Obaid, meu já citadíssimo tutor, me ligou da recepção dizendo que estava aqui embaixo com a esposa, Pritpal, para uma recepção e me convidou. Claro que eu fui.
A recepção era a celebração do primeiro domingo do Ramadan, quando eles quebram o jejum com orações e um jantar. Obaid é muçulmano, mas Pritpal é hinduísta. Uma união bastante incomum aqui por estas bandas. Ela me contou que foi “deserdada” pelos irmãos mais velhos ao se casar com um muçulmano.
Pedi pra tirar umas fotos só pra compartir com vocês e para deixar o Rodrigo e a Baby contentes, já que sempre pedem fotos. A festa foi patrocinada e organizada por um empresário e sua esposa. Alguns convidados falaram ao microfone e, depois, eles quebraram o jejum com uma espécie de salada de frutas com canela e alguma outra espécie não identificada e um bolinho de vegetais frito. De bebida, limonada e um suco vermelho que não provei. Depois disso, era a hora da oração. Homens pra um lado e mulheres pra outro. Além de não rezar juntos no mesmo lençol, cada “grupo” tem sua mesa de comida e se serve separadamente.
Todo mundo me olhava com aquela cara “quem-é-essa-branca-de-calça-jeans-aqui-com-a-gente”? Não entendi absolutamente nada do que eles falavam, mas me senti muito afortunada por estar ali. Eu nunca me imaginei - na condição de mulher, brasileira e não praticamente de nenhuma religião em concreto - ali numa celebração do Ramadan na Índia, um país onde apenas 12% da população é muçulmana! Uma experiência inesquecível, que salvou meu domingo do confinamento no quarto e me deu ainda mais vontade de viver esta experiência.
A única coisa negativa disso tudo foi o jantar. Não tenho medo da violência, não tenho medo de cobras, não tenho medo de ser roubada nem do terrorismo na Cachemira. A única coisa que me tira o sono é o CURRY! Tenho que pensar nos planos B, C, D.... para fugir disso. É meu terceiro dia apenas e somente o cheiro me faz perder o apetite!
A partir de amanhã, espero ter conexão à Internet todos os dias e falar com vocês. Muitos dos meus “problemas” terminarão!

Getting better - 16/09/07


Por sorte ou destino, a gente sempre encontra alguns “anjos” que nos fazem o caminho mais fácil. O meu se chama Pritpal e é a esposa do meu tutor, Obaid. Vou falar sobre isso mais tarde, é só pra começar com alguma coisa positiva! Vamos aos fatos.
Estou passando o fim-de-semana aqui na Guest House da universidade. Amanhã eu tenho que decidir se fico num apartamento grandão só pra mim (inconvenientes: estava fechado por 9 anos, tem apenas os móveis essenciais e o banheiro é feio – redundância aqui!) ou mudar pra outra Guest House aqui mesmo na universidade (inconvenientes: deve ser mais caro e eu terei que dividir quarto com uma ou duas pessoas mais que eu nunca vi na vida). Acho que ficarei com o apartamento. Apesar do banheiro e de parecer que acabei de ser roubada e me levaram tudo, eu poderei cozinhar, ter privacidade, fica porta a porta com a família do Obaid e eles me ajudam em tudo.
Hoje pela primeira vez me diverti um pouco aqui. Meu dia começou com o motorista do Obaid vindo me buscar pra me levar à casa deles, que fica fora de Delhi. Conheci a mulher e a filhinha dele, Somdra. Eles me receberam super bem e almocei por lá mesmo. O que? Tudo com curry, claro! Acho que já estou ficando amarela!
Depois fui ver o apartamento que eles conseguiram para mim e voltei à Delhi com Pritpal. O caminho foi divertidíssimo, porque ela estava me contando coisas da família dela, que é de Rajastão e do pai que usa aqueles turbantes, das religiões aqui, política, etc. Ela é a pessoa que conheci que melhor fala inglês. Ou melhor, a única que dá pra entender 100%! Tudo aqui me parece insólito, mas algumas coisas são engraçadíssimas: no meio da rodovia, milhares de carros buzinando, vem um elefante carregando dois homens, tranquilão, numa boa! Queria muito ter tirado uma foto, mas não tive tempo e, de verdade, espero encontrar com outro por aqui, porque vaca pra mim já não tem mais graça!
Pritpal me levou num “community center”, que é como um mercado a céu aberto. Pela primeira vez andei no meio deles e foi estranho, acho que para os dois lados. Todos me olhavam e eu olhava pra todo mundo. O cheiro é uma mistura de curry, humidade e fritura. Pela primeira vez, crianças me pediram dinheiro. Elas pegam na sua mão e não soltam, vão falando e caminhando com você. Me senti super mal, porque minha vontade era dar dinheiro. Mas pensei: eu não dou esmola no Brasil porque acho que isso não é solução para absolutamente nada, por que faria aqui? E Pritpal me disse para não fazê-lo ou estaria rodeada de dezenas em poucos segundos. É foda! Comecei a pensar em alguma maneira de ajudar a essa molecada sem ter que dar dinheiro.
Além das crianças - marrons, sujas e desnutridas - há moscas por todas as partes, eu falava com cuidado pra não abrir muito a boca. Sério! Pritpal ria de mim, ela percebeu meu assombro com algumas coisas. Me sinto uma criança ao lado dela, que me diz o que devo fazer o tempo todo, coisas como: deixe algum dinheiro trocado no bolso para não ter que abrir a bolsa o tempo todo; não dê esmola; não use o celular no meio de muita gente, etc. Depois de um tour pelo mercado para comprar iogurte, nos sentamos no... McDonald’s! Que feliz eu fiquei quando pedi uma Coca Light! Aqui é super difícil encontrar refrigerante. Deliciei como nunca e contei coisas de Barcelona e do Brasil pra ela. Finalmente, me diverti umas 6 horas!
Voltei para meu quarto me sentindo vitoriosa: tenho o telefone de entrega do McDonald’s, Pizza Hut e Domino’s!!!!!!! Vou poder fugir do curry por algumas refeições! Queria passar o resto do dia lendo e escrevendo, mas me bateu aquela agonia de sábado à noite (em realidade, de tarde) e decidi sair sozinha, apesar da recomendação do Obaid. Sei que eles estão me superprotegendo porque se sentem meio que responsáveis por mim, mas eu sempre me virei e tava a fim de sair sozinha e sentir um pouco de emoção...
Chamei um táxi e pedi pra ir ao maior shopping da cidade que tivesse cinema. Fui ao Ansal Plaza. Chegando lá, havia Mc de novo, Adidas, Lacoste, uma espécie de El Corte Inglês indiano, Reebok, Benetton, mas nenhuma sala de cinema. Uma broxada geral! Resolvi sentar e comer no único restaurante que não era de comida rápida. Pedi uma salada de frango sem curry e UM CHOPE! Meu primeiro aqui em Delhi! Que delícia. Aqui tô vendo que as comidas e bebidas prosaicas são as mais deliciosas. Que longe estão os jantares em restaurantes dos famosos chefs catalães ou os vinhos tintos do Priorat!
Comi, tomei dois chopes e fumei um cigarro (essa foto me pareceu incrível! Todos que compram cigarro em Barcelona sabem como é “mecânico” e aqui eles trazem num pratinho decorado). Ri demais! Deus, como essas pessoas daqui são gentis! Talvez porque eu sou turista e eles vem $$$$ na minha cara, mas impressionam a gentileza e o sorriso deles cada vez que peço favores ou informações, que não são poucas!
Peguei um táxi de volta pra casa. Tenho exata noção de que sou roubada cada vez que subo num táxi sozinha, mas é a única maneira de ser um pouco independente aqui! Voltei pra “casa” feliz da vida, mesmo sem ter visto nenhum filme e não ter encontrado nenhum ocidental para conversar. Pensei no meu dia inteiro e em como as coisas melhoraram desde que cheguei. Ainda tenho altíssimos e baixíssimos, as noites ainda são tenebrosas (não consigo dormir e meu cérebro vai a mais de 1.000/hora). No entanto, meu celular já funciona e me sinto de volta ao planeta ao saber que quem quiser pode me achar.
Ah! Sabem por que aqueles caras usam o turbante? Porque eles são de uma religião do Rajastão (esqueci o nome, é muita informação num dia só) que não permite cortar o cabelo. Eles não cortam o cabelo desde que nascem até que morrem. Na minha ignorância, perguntei à Pritpal como era quando eles tiravam aquilo (o pai dela e os irmãos o usam) e, claro, o cabelo não cresce debaixo daquele turbante (eu pensava que eles usavam pra esconder os 3 metros de cabelo enrolado!). Eles morrem com o cabelo curto e a barba super comprida! Até criancinha usa o turbante, prometo uma foto, porque é muito fofo!
Tenho meio que vergonha de tirar foto aqui. Na verdade, gostaria de tirar foto de tudo, porque tudo é diferente pra mim, mas, como vou ficar aqui muito tempo, não quero que eles me vejam como uma turista deslumbrada. Acho meio falta de respeito ficar tirando foto quando eles estão comendo ou trabalhando... É a vida deles, não atos pensados pra deixar turistas embasbacados!
Agora mesmo uma senhora veio limpar meu quarto e está aqui sentada do meu lado, perguntando sobre a música e sobre o que eu estou escrevendo. Daria uma foto linda, ela aqui sentada, com um sari laranja vivo, aquele brinco em forma de flor no nariz e aquele rosto em que cada ruga quer dizer muito sofrimento. Mas não quis pedir pra tirar a foto, prefiro pensar nela de carne e osso como a acabo de ver. Fico com medo de ofender, ainda não sei os costumes, e a saída mais fácil pra mim é tentar ser o mais “anônima” possível.
Mudando de assunto, a saudade anda me comendo. O único jeito é não pensar no que todos estão fazendo. Ontem foi sábado e sei que Rodrigo saiu com nossos amigos...
Bateram na porta de novo. Estou solicitada hoje! Era o garçom do restaurante perguntando se eu queria chá ou café e puxando papo comigo. Deus! Como eu queria poder me comunicar melhor com eles. Eles olham para dentro do meu quarto e pro meu computador como se fosse outro mundo! Ele gostou da música, era Devendra Banhart. Vai me trazer água e o iogurte que comprei ontem. E hoje, domingo, um dia sem curry! Vou pedir uma pizza ou McDonald’s! E isso, milagrosamente, é o suficiente pra me deixar feliz por hoje.
Estou fazendo uma lista das coisas que mais me chamam atenção aqui. Quando tenha pelo menos 10 items, divido aqui com vocês. Prometo mais fotos também.


PS: Me ligaram da cozinha agora, os iogurtes que ralei pra comprar ontem desapareceram! hehehehe

A chegada - 14/09/07

Gente, esta atrasado porque nao consigo acessar Internet aqui, mas vou postar tudo o que escrevi no fim-de-semana. Este teclado nao tem acento, tenho que dar gracas a Deus por funcionar! hehehehe


É difícil descrever minhas primeiras 24 horas em Nova Delhi sem ter dois tipos de sensações: a de querer chorar e a de estar sendo injusta com a cidade. É precipitado ter qualquer opinião, mas a primeira impressão me marcou bastante – no sentido negativo! Nenhum problema durante o vôo, na chegada ao aeroporto, ao trocar dinheiro ou pagar o táxi anteriormente como 100% das pessoas que visitam a Índia indicam.
A verdadeira aventura começou ao entrar no táxi. Essa história de que todos os indianos falam inglês, independentemente do nível social, é conversa fiada. E “meu” primeiro taxista, claro!, não falava nem entendia nada. Mas eu tinha o endereço anotado num pedaço de papel e pensei que, pelo menos na chegada, não teria grandes percalços (Deus, como sou esperta!). Achei bacana o carro, preto e amarelo (como os de Barcelona), mas pequenininhos e caindo aos pedaços. Eu não tinha idéia de como chegar à pensão alugada por Internet – e nem o taxista! Na verdade, já entrei no táxi assustada, porque no guia de viagens que comprei, diziam que mulher sozinha não deveria pegar táxi depois das 22h, e já eram quase 23h. Estava tudo indo bem, apesar do barulho incessante de buzinas que vêm de todas as partes e da falta de semáforo e/ou organização. No meio de uma avenida gigante, o cara fala que não sabe o caminho e me manda saltar do carro, com toda a minha bagagem para 3 meses! Tivemos uma pequena discussão em inglês e hindu, cada um não tinha idéia do que o outro estava dizendo, a gente só sabia que estávamos com raiva – os dois! Eu, além de tudo, com medo porque, depois disso, o cara entrou numas ruelas escuras e pequenas e aí eu pensei, pela primeira vez: Fodeu!
Apesar de tudo, cheguei à pensão salva e com o coração disparado. Se aquilo era o centro da cidade, como o dono me contou por e-mail, eu não queria ver o resto da cidade! Cheguei e Asha, uma indiana pequeninha e simpática, estava me esperando. Meu quarto era escuro e cheirava a mofo. O banheiro era impraticável, não dava pra sentar pra fazer xixi nem escovar os dentes. Banho, nem pensar! E é a primeira coisa que faço sempre que chego de uma longa viagem. Vi que ia entrar em pânico, senti uma onda de angústia por todo o meu corpo e comecei uma choradeira sem fim! O único pensamento era: “O que eu faço aqui? Por que deixei minha casa?”.
Apesar da simpatia do dono (por telefone, porque ele vive nos EUA e eu só soube disso aqui) e da Asha, eu estava histérica, sem controle de nenhuma emoção, desesperada mesmo. Não aceitei nem um copo de água, muito menos comida. Além do nó na garganta, o lugar e o cheiro de curry não me davam nenhuma vontade de comer. Eu sempre me adaptei a qualquer coisa, mas aquilo ali era demais pra minha cabeça e pro meu corpo.
Entrei na Internet e chorei pra cacete quando vi todos os meus amigos conectados e a foto do Rodrigo. Não queria que ele me ligasse naquela hora de aflição. Desabafei com dois amigos e fiquei ainda pior. Sabia que, por mais que eu explicasse, eles não tinham nem idéia do que estava acontecendo.
Sozinha numa sala na puta que pariu de Delhi, online, desesperada, tentando me acalmar e ligar pra alguém quando, serelepe e correndo, passa um rato. Eu pensei: não pode ser, estou condicionada e vendo coisas. Durante as duas horas que estive ali, passaram 3 ratos. No terceiro, reservei um quarto num hotel pra 3 noites, tempo necessário para encontrar outra coisa.
O fim da noite é previsível: cansaço, quarto com luz acesa pra não entrar rato, tudo em cima da cama, insônia, lágrimas. Só queria que o dia amanhecesse pra ir pra outro lugar. No entanto, quando acordei depois de umas poucas horas de sono, decidi conhecer as outras meninas que vivem lá, comprar um celular e ligar pro dono da pensão, que foi super Delhicado comigo todas as vezes em que nos falamos.
As meninas que moram lá são super simpáticas, uma (Ritu) me levou à loja pra comprar o celular e me deu algumas dicas. Até me consolou quando viu que eu estava triste e insatisfeita com o quarto. Mas tanto o argumento dela quanto o do dono não eram um “consolo” para mim: segundo eles, o quarto onde eu estava era o melhor da pensão. Me senti super mal, porque sentia que estava menosprezando a casa deles e a maneira como eles vivem. Asha estava preocupada porque eu não comi nada de manhã de novo. Ela conseguia se comunicar bem apesar do inglês inexistente... Resolvi não ir pro hotel, cancelei a reserva, e fui para a universidade conhecer, finalmente, meu tutor: Obaid Siddiqui. Saí de casa sem banho, sem escovar o dente, sem comida, mas com alguma esperança. Talvez o lugar não seja tão ruim e tudo aqui seja assim. Talvez não encontrarei lugar melhor e pessoas mais amáveis e prestativas. Muitos talvezes....
Mas minha esperança acabou ao cruzar minha primeira avenida na Índia! Uma senhora que cuida da pensão foi me levar ao ponto de táxi, que ficava do outro lado da avenida apenas. Mas a avenida não tinha semáforo, guarda de trânsito ou qualquer coisa parecida. E carros, bicicletas, motos, caminhões vindo dos dois lados. Quando eu segui a mulher, pensei pela segunda vez: Fodeu!
Eram duas vias, na primeira segui a senhora e meu coração parou. Ela andava com tanta propriedade, com total segurança de que os carros iam parar para ela passar (e eu simplesmente não tinha segurança nenhuma, em nenhum sentido!). Na segunda via, eu não conseguia me mover, fiquei parada dizendo que não ia de jeito nenhum enquanto ela fazia sinal pra eu passar. Eu saí correndo, cruzei a avenida, consegui o táxi, mas o pânico do dia anterior tinha voltado. Fiz todo o caminho até a universidade chorando e pensando: Não vou conseguir desta vez, isso é demais pra mim!
Cheguei na universidade e Obaid estava saindo pra almoçar com outros professores. Foi minha primeira experiência com a comida indiana e foi muito melhor que eu esperava no que diz respeito à pimenta. Comi arroz com curry, frango ao curry, sopa de lentejas com curry e verduras com curry! Comi com colher, enquanto todos os outros 4 da mesa comiam com a mão. Garfo e faca não estavam nem na mesa e colher só é usada para servir. Deve ser uma técnica muito especial, porque não caía nenhum grão de arroz das mãos deles. Me diverti observando, tentando não ficar com aquela cara de ocidental babaca.
Por sorte, Obaid foi um anjo que caiu nessa cidade louca e me ajudou a encontrar outro lugar. Passou a tarde ligando para conhecidos para me ajudar. Até ofereceu a casa da família dele caso eu não conseguisse nada. Fui começando a ver porque a amabilidade dos indianos é tão conhecida quanto o Taj Mahal.
Ainda não estou num quarto definitivo, porque amanhã eu vou ver um flat de uma amiga de Obaid que está desocupado e que pode ser melhor que um quarto apenas. De todas maneiras, hoje estou na Guest House da universidade e tudo me parece um paraíso: tenho um quarto iluminado e grande só pra mim, com banheiro, TV e ar condicionado!
Foi horrível voltar lá na pensão para pegar minhas malas e dizer que eu estava saindo. Me senti ainda pior que da primeira vez, porque vi na cara da Asha que ela estava desapontada comigo, mas eu não tinha outra opção. Há coisas na vida que simplesmente a gente não consegue fazer. Viver com ratos e num lugar sem as mínimas condições de higiene está entre elas, no que se refere à minha vida, claro! Pedi milhões de desculpas, conversei por telefone com o dono (que também mudou a voz quando eu disse a verdade) e aqui estou.
Acho que nunca senti tanta emoção em escovar os dentes ou em tomar banho! Coloquei todos os meus cremes em cima da mesa e tomei banho pensando em como a gente não dá valor às coisas automáticas da rotina! Simplesmente vamos fazendo tudo como robôs, da higiene pessoal ao trato com as pessoas que a gente ama.
Tenho muito mais coisa pra contar, tudo aqui me parece mais sujo e caótico do que eu pensava ou tinha lido, mas prefiro dar uma chance à cidade neste fim-de-semana pra não ser mais injusta. Sei que no final vou acabar me acostumando e me divertindo com esse caos, mas as primeiras 24 horas foram traumáticas e sujas! Vou descer pra jantar agora: qualquer coisa com curry!

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O Mateus chegou!!!!!!!!!!







Quatro fotos de um dos dias mais emocionantes da minha vida: o nascimento do meu sobrinho e afilhado Mateus e minha despedida com meus amigos e Rodrigo. Tô boba, chorando, tô tia! Hoje nem vou pensar na Índia, só no Mateus, que nasceu em Belém do Pará ontem de noite com 3,5kg. Queria muito estar lá com meu irmão Vítor, o pai do Mateus, O CARA (na foto com o bebê)!!!! Na outra foto estou com minhas amigas: Baby, Dani, Cibele, Jaque e Indali! Me diverti e me emocionei muito ontem! Bem-vindo, sobrinho!

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Hoje é a despedida!

Pensei em começar a escrever só lá de Delhi, mas alguns amigos curiosos pediram pra eu contar como estão os preparativos. Então hoje vou falar da despedida, que será esta noite às 21h em um restaurante no Raval chamado Rita Rouge. Como sempre, Dani que organizou. Ela também organizou minha despedida de solteira no ano passado! Estarão só os amigos mais chegados - e os que mais bebem também! hehehehe
Quero aproveitar pra agradecer a todos os meus amigos que estão me escrevendo, que me dão a maior força, que me encheram de presentes, que estão "sofrendo".
Nesses últimos dias estou "comendo" o guia gigante que comprei e leio cada coisa completamente alheia à nossa realidade. E é exatamente por isso que escolhi este lugar: o desconhecido. Coisas como: não olhar nos olhos de um homem quando estiver conversando com ele; mulher não deve pegar táxi de noite; não deixar ombros e pernas de fora; não beijar ou fumar na rua... mais um montão de "nãos"! Pra quem quer ver como é bom ser mulher no Ocidente, veja o filme "Água", da diretora indiana Deepa Mehta, e preparem o lenço!
Falta pouco tempo. Meu vôo sai daqui nesta quinta-feira às 6h25 e faço escala em Milão. Tenho certeza de que tudo irá bem, mas esse frio na barriga não sai. Acho que uma das minhas principais características é a capacidade de adaptação, mas desta vez está sendo foda deixar marido, casa, todos os amigos, a clínica, Barcelona em setembro...mesmo por pouco tempo. Mas tudo bem, saí da minha "zona de conforto" e pretendo continuar aqui por muito tempo!
Páro por aqui hoje porque tenho que comprar livros pra tese, separar roupa pra levar e preparar-me para esta noite com meus amigos que amo tanto! Oba!!!!!!!!

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Em uma semana: Índia!

Nunca achei que minha vida merecia um blog, mas desta vez sim e eu me "rendo" à liberdade da Internet! 3 meses na Índia pra estudar, começar minha tese de mestrado, conhecer, viver, respirar outros ares, rir, chorar, sentir saudade... A partir do dia 13 de setembro, estarei em Nova Delhi, quero contar todas as minhas experiências lá: visuais, sensorais, emocionais, tudo, tudo. Quero deixar registrado essa viagem dos meus sonhos, esta viagem dos meus 30 anos! Claro que vocês podem - e devem - comentar, opinar, reclamar da falta de notícias ou da qualidade dos textos ou das fotos, sugerir, mandar boas vibraçoes, qualquer coisa. O objetivo é compartir um sonho antigo.
A escolha por um blog em português pode parecer um pouco egoísta, mas é o único idioma em que eu me sinto em casa, em que as idéias e sentimentos vêm sem censura. Espero que meus amigos que falam espanhol me entendam e que busquem no dicionário ou me perguntem caso tenham dúvidas. Só nao quero ninguém fora dessa!
Se você quer me seguir, nao é seguro...