domingo, 16 de setembro de 2007

A chegada - 14/09/07

Gente, esta atrasado porque nao consigo acessar Internet aqui, mas vou postar tudo o que escrevi no fim-de-semana. Este teclado nao tem acento, tenho que dar gracas a Deus por funcionar! hehehehe


É difícil descrever minhas primeiras 24 horas em Nova Delhi sem ter dois tipos de sensações: a de querer chorar e a de estar sendo injusta com a cidade. É precipitado ter qualquer opinião, mas a primeira impressão me marcou bastante – no sentido negativo! Nenhum problema durante o vôo, na chegada ao aeroporto, ao trocar dinheiro ou pagar o táxi anteriormente como 100% das pessoas que visitam a Índia indicam.
A verdadeira aventura começou ao entrar no táxi. Essa história de que todos os indianos falam inglês, independentemente do nível social, é conversa fiada. E “meu” primeiro taxista, claro!, não falava nem entendia nada. Mas eu tinha o endereço anotado num pedaço de papel e pensei que, pelo menos na chegada, não teria grandes percalços (Deus, como sou esperta!). Achei bacana o carro, preto e amarelo (como os de Barcelona), mas pequenininhos e caindo aos pedaços. Eu não tinha idéia de como chegar à pensão alugada por Internet – e nem o taxista! Na verdade, já entrei no táxi assustada, porque no guia de viagens que comprei, diziam que mulher sozinha não deveria pegar táxi depois das 22h, e já eram quase 23h. Estava tudo indo bem, apesar do barulho incessante de buzinas que vêm de todas as partes e da falta de semáforo e/ou organização. No meio de uma avenida gigante, o cara fala que não sabe o caminho e me manda saltar do carro, com toda a minha bagagem para 3 meses! Tivemos uma pequena discussão em inglês e hindu, cada um não tinha idéia do que o outro estava dizendo, a gente só sabia que estávamos com raiva – os dois! Eu, além de tudo, com medo porque, depois disso, o cara entrou numas ruelas escuras e pequenas e aí eu pensei, pela primeira vez: Fodeu!
Apesar de tudo, cheguei à pensão salva e com o coração disparado. Se aquilo era o centro da cidade, como o dono me contou por e-mail, eu não queria ver o resto da cidade! Cheguei e Asha, uma indiana pequeninha e simpática, estava me esperando. Meu quarto era escuro e cheirava a mofo. O banheiro era impraticável, não dava pra sentar pra fazer xixi nem escovar os dentes. Banho, nem pensar! E é a primeira coisa que faço sempre que chego de uma longa viagem. Vi que ia entrar em pânico, senti uma onda de angústia por todo o meu corpo e comecei uma choradeira sem fim! O único pensamento era: “O que eu faço aqui? Por que deixei minha casa?”.
Apesar da simpatia do dono (por telefone, porque ele vive nos EUA e eu só soube disso aqui) e da Asha, eu estava histérica, sem controle de nenhuma emoção, desesperada mesmo. Não aceitei nem um copo de água, muito menos comida. Além do nó na garganta, o lugar e o cheiro de curry não me davam nenhuma vontade de comer. Eu sempre me adaptei a qualquer coisa, mas aquilo ali era demais pra minha cabeça e pro meu corpo.
Entrei na Internet e chorei pra cacete quando vi todos os meus amigos conectados e a foto do Rodrigo. Não queria que ele me ligasse naquela hora de aflição. Desabafei com dois amigos e fiquei ainda pior. Sabia que, por mais que eu explicasse, eles não tinham nem idéia do que estava acontecendo.
Sozinha numa sala na puta que pariu de Delhi, online, desesperada, tentando me acalmar e ligar pra alguém quando, serelepe e correndo, passa um rato. Eu pensei: não pode ser, estou condicionada e vendo coisas. Durante as duas horas que estive ali, passaram 3 ratos. No terceiro, reservei um quarto num hotel pra 3 noites, tempo necessário para encontrar outra coisa.
O fim da noite é previsível: cansaço, quarto com luz acesa pra não entrar rato, tudo em cima da cama, insônia, lágrimas. Só queria que o dia amanhecesse pra ir pra outro lugar. No entanto, quando acordei depois de umas poucas horas de sono, decidi conhecer as outras meninas que vivem lá, comprar um celular e ligar pro dono da pensão, que foi super Delhicado comigo todas as vezes em que nos falamos.
As meninas que moram lá são super simpáticas, uma (Ritu) me levou à loja pra comprar o celular e me deu algumas dicas. Até me consolou quando viu que eu estava triste e insatisfeita com o quarto. Mas tanto o argumento dela quanto o do dono não eram um “consolo” para mim: segundo eles, o quarto onde eu estava era o melhor da pensão. Me senti super mal, porque sentia que estava menosprezando a casa deles e a maneira como eles vivem. Asha estava preocupada porque eu não comi nada de manhã de novo. Ela conseguia se comunicar bem apesar do inglês inexistente... Resolvi não ir pro hotel, cancelei a reserva, e fui para a universidade conhecer, finalmente, meu tutor: Obaid Siddiqui. Saí de casa sem banho, sem escovar o dente, sem comida, mas com alguma esperança. Talvez o lugar não seja tão ruim e tudo aqui seja assim. Talvez não encontrarei lugar melhor e pessoas mais amáveis e prestativas. Muitos talvezes....
Mas minha esperança acabou ao cruzar minha primeira avenida na Índia! Uma senhora que cuida da pensão foi me levar ao ponto de táxi, que ficava do outro lado da avenida apenas. Mas a avenida não tinha semáforo, guarda de trânsito ou qualquer coisa parecida. E carros, bicicletas, motos, caminhões vindo dos dois lados. Quando eu segui a mulher, pensei pela segunda vez: Fodeu!
Eram duas vias, na primeira segui a senhora e meu coração parou. Ela andava com tanta propriedade, com total segurança de que os carros iam parar para ela passar (e eu simplesmente não tinha segurança nenhuma, em nenhum sentido!). Na segunda via, eu não conseguia me mover, fiquei parada dizendo que não ia de jeito nenhum enquanto ela fazia sinal pra eu passar. Eu saí correndo, cruzei a avenida, consegui o táxi, mas o pânico do dia anterior tinha voltado. Fiz todo o caminho até a universidade chorando e pensando: Não vou conseguir desta vez, isso é demais pra mim!
Cheguei na universidade e Obaid estava saindo pra almoçar com outros professores. Foi minha primeira experiência com a comida indiana e foi muito melhor que eu esperava no que diz respeito à pimenta. Comi arroz com curry, frango ao curry, sopa de lentejas com curry e verduras com curry! Comi com colher, enquanto todos os outros 4 da mesa comiam com a mão. Garfo e faca não estavam nem na mesa e colher só é usada para servir. Deve ser uma técnica muito especial, porque não caía nenhum grão de arroz das mãos deles. Me diverti observando, tentando não ficar com aquela cara de ocidental babaca.
Por sorte, Obaid foi um anjo que caiu nessa cidade louca e me ajudou a encontrar outro lugar. Passou a tarde ligando para conhecidos para me ajudar. Até ofereceu a casa da família dele caso eu não conseguisse nada. Fui começando a ver porque a amabilidade dos indianos é tão conhecida quanto o Taj Mahal.
Ainda não estou num quarto definitivo, porque amanhã eu vou ver um flat de uma amiga de Obaid que está desocupado e que pode ser melhor que um quarto apenas. De todas maneiras, hoje estou na Guest House da universidade e tudo me parece um paraíso: tenho um quarto iluminado e grande só pra mim, com banheiro, TV e ar condicionado!
Foi horrível voltar lá na pensão para pegar minhas malas e dizer que eu estava saindo. Me senti ainda pior que da primeira vez, porque vi na cara da Asha que ela estava desapontada comigo, mas eu não tinha outra opção. Há coisas na vida que simplesmente a gente não consegue fazer. Viver com ratos e num lugar sem as mínimas condições de higiene está entre elas, no que se refere à minha vida, claro! Pedi milhões de desculpas, conversei por telefone com o dono (que também mudou a voz quando eu disse a verdade) e aqui estou.
Acho que nunca senti tanta emoção em escovar os dentes ou em tomar banho! Coloquei todos os meus cremes em cima da mesa e tomei banho pensando em como a gente não dá valor às coisas automáticas da rotina! Simplesmente vamos fazendo tudo como robôs, da higiene pessoal ao trato com as pessoas que a gente ama.
Tenho muito mais coisa pra contar, tudo aqui me parece mais sujo e caótico do que eu pensava ou tinha lido, mas prefiro dar uma chance à cidade neste fim-de-semana pra não ser mais injusta. Sei que no final vou acabar me acostumando e me divertindo com esse caos, mas as primeiras 24 horas foram traumáticas e sujas! Vou descer pra jantar agora: qualquer coisa com curry!

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