domingo, 16 de setembro de 2007

Getting better - 16/09/07


Por sorte ou destino, a gente sempre encontra alguns “anjos” que nos fazem o caminho mais fácil. O meu se chama Pritpal e é a esposa do meu tutor, Obaid. Vou falar sobre isso mais tarde, é só pra começar com alguma coisa positiva! Vamos aos fatos.
Estou passando o fim-de-semana aqui na Guest House da universidade. Amanhã eu tenho que decidir se fico num apartamento grandão só pra mim (inconvenientes: estava fechado por 9 anos, tem apenas os móveis essenciais e o banheiro é feio – redundância aqui!) ou mudar pra outra Guest House aqui mesmo na universidade (inconvenientes: deve ser mais caro e eu terei que dividir quarto com uma ou duas pessoas mais que eu nunca vi na vida). Acho que ficarei com o apartamento. Apesar do banheiro e de parecer que acabei de ser roubada e me levaram tudo, eu poderei cozinhar, ter privacidade, fica porta a porta com a família do Obaid e eles me ajudam em tudo.
Hoje pela primeira vez me diverti um pouco aqui. Meu dia começou com o motorista do Obaid vindo me buscar pra me levar à casa deles, que fica fora de Delhi. Conheci a mulher e a filhinha dele, Somdra. Eles me receberam super bem e almocei por lá mesmo. O que? Tudo com curry, claro! Acho que já estou ficando amarela!
Depois fui ver o apartamento que eles conseguiram para mim e voltei à Delhi com Pritpal. O caminho foi divertidíssimo, porque ela estava me contando coisas da família dela, que é de Rajastão e do pai que usa aqueles turbantes, das religiões aqui, política, etc. Ela é a pessoa que conheci que melhor fala inglês. Ou melhor, a única que dá pra entender 100%! Tudo aqui me parece insólito, mas algumas coisas são engraçadíssimas: no meio da rodovia, milhares de carros buzinando, vem um elefante carregando dois homens, tranquilão, numa boa! Queria muito ter tirado uma foto, mas não tive tempo e, de verdade, espero encontrar com outro por aqui, porque vaca pra mim já não tem mais graça!
Pritpal me levou num “community center”, que é como um mercado a céu aberto. Pela primeira vez andei no meio deles e foi estranho, acho que para os dois lados. Todos me olhavam e eu olhava pra todo mundo. O cheiro é uma mistura de curry, humidade e fritura. Pela primeira vez, crianças me pediram dinheiro. Elas pegam na sua mão e não soltam, vão falando e caminhando com você. Me senti super mal, porque minha vontade era dar dinheiro. Mas pensei: eu não dou esmola no Brasil porque acho que isso não é solução para absolutamente nada, por que faria aqui? E Pritpal me disse para não fazê-lo ou estaria rodeada de dezenas em poucos segundos. É foda! Comecei a pensar em alguma maneira de ajudar a essa molecada sem ter que dar dinheiro.
Além das crianças - marrons, sujas e desnutridas - há moscas por todas as partes, eu falava com cuidado pra não abrir muito a boca. Sério! Pritpal ria de mim, ela percebeu meu assombro com algumas coisas. Me sinto uma criança ao lado dela, que me diz o que devo fazer o tempo todo, coisas como: deixe algum dinheiro trocado no bolso para não ter que abrir a bolsa o tempo todo; não dê esmola; não use o celular no meio de muita gente, etc. Depois de um tour pelo mercado para comprar iogurte, nos sentamos no... McDonald’s! Que feliz eu fiquei quando pedi uma Coca Light! Aqui é super difícil encontrar refrigerante. Deliciei como nunca e contei coisas de Barcelona e do Brasil pra ela. Finalmente, me diverti umas 6 horas!
Voltei para meu quarto me sentindo vitoriosa: tenho o telefone de entrega do McDonald’s, Pizza Hut e Domino’s!!!!!!! Vou poder fugir do curry por algumas refeições! Queria passar o resto do dia lendo e escrevendo, mas me bateu aquela agonia de sábado à noite (em realidade, de tarde) e decidi sair sozinha, apesar da recomendação do Obaid. Sei que eles estão me superprotegendo porque se sentem meio que responsáveis por mim, mas eu sempre me virei e tava a fim de sair sozinha e sentir um pouco de emoção...
Chamei um táxi e pedi pra ir ao maior shopping da cidade que tivesse cinema. Fui ao Ansal Plaza. Chegando lá, havia Mc de novo, Adidas, Lacoste, uma espécie de El Corte Inglês indiano, Reebok, Benetton, mas nenhuma sala de cinema. Uma broxada geral! Resolvi sentar e comer no único restaurante que não era de comida rápida. Pedi uma salada de frango sem curry e UM CHOPE! Meu primeiro aqui em Delhi! Que delícia. Aqui tô vendo que as comidas e bebidas prosaicas são as mais deliciosas. Que longe estão os jantares em restaurantes dos famosos chefs catalães ou os vinhos tintos do Priorat!
Comi, tomei dois chopes e fumei um cigarro (essa foto me pareceu incrível! Todos que compram cigarro em Barcelona sabem como é “mecânico” e aqui eles trazem num pratinho decorado). Ri demais! Deus, como essas pessoas daqui são gentis! Talvez porque eu sou turista e eles vem $$$$ na minha cara, mas impressionam a gentileza e o sorriso deles cada vez que peço favores ou informações, que não são poucas!
Peguei um táxi de volta pra casa. Tenho exata noção de que sou roubada cada vez que subo num táxi sozinha, mas é a única maneira de ser um pouco independente aqui! Voltei pra “casa” feliz da vida, mesmo sem ter visto nenhum filme e não ter encontrado nenhum ocidental para conversar. Pensei no meu dia inteiro e em como as coisas melhoraram desde que cheguei. Ainda tenho altíssimos e baixíssimos, as noites ainda são tenebrosas (não consigo dormir e meu cérebro vai a mais de 1.000/hora). No entanto, meu celular já funciona e me sinto de volta ao planeta ao saber que quem quiser pode me achar.
Ah! Sabem por que aqueles caras usam o turbante? Porque eles são de uma religião do Rajastão (esqueci o nome, é muita informação num dia só) que não permite cortar o cabelo. Eles não cortam o cabelo desde que nascem até que morrem. Na minha ignorância, perguntei à Pritpal como era quando eles tiravam aquilo (o pai dela e os irmãos o usam) e, claro, o cabelo não cresce debaixo daquele turbante (eu pensava que eles usavam pra esconder os 3 metros de cabelo enrolado!). Eles morrem com o cabelo curto e a barba super comprida! Até criancinha usa o turbante, prometo uma foto, porque é muito fofo!
Tenho meio que vergonha de tirar foto aqui. Na verdade, gostaria de tirar foto de tudo, porque tudo é diferente pra mim, mas, como vou ficar aqui muito tempo, não quero que eles me vejam como uma turista deslumbrada. Acho meio falta de respeito ficar tirando foto quando eles estão comendo ou trabalhando... É a vida deles, não atos pensados pra deixar turistas embasbacados!
Agora mesmo uma senhora veio limpar meu quarto e está aqui sentada do meu lado, perguntando sobre a música e sobre o que eu estou escrevendo. Daria uma foto linda, ela aqui sentada, com um sari laranja vivo, aquele brinco em forma de flor no nariz e aquele rosto em que cada ruga quer dizer muito sofrimento. Mas não quis pedir pra tirar a foto, prefiro pensar nela de carne e osso como a acabo de ver. Fico com medo de ofender, ainda não sei os costumes, e a saída mais fácil pra mim é tentar ser o mais “anônima” possível.
Mudando de assunto, a saudade anda me comendo. O único jeito é não pensar no que todos estão fazendo. Ontem foi sábado e sei que Rodrigo saiu com nossos amigos...
Bateram na porta de novo. Estou solicitada hoje! Era o garçom do restaurante perguntando se eu queria chá ou café e puxando papo comigo. Deus! Como eu queria poder me comunicar melhor com eles. Eles olham para dentro do meu quarto e pro meu computador como se fosse outro mundo! Ele gostou da música, era Devendra Banhart. Vai me trazer água e o iogurte que comprei ontem. E hoje, domingo, um dia sem curry! Vou pedir uma pizza ou McDonald’s! E isso, milagrosamente, é o suficiente pra me deixar feliz por hoje.
Estou fazendo uma lista das coisas que mais me chamam atenção aqui. Quando tenha pelo menos 10 items, divido aqui com vocês. Prometo mais fotos também.


PS: Me ligaram da cozinha agora, os iogurtes que ralei pra comprar ontem desapareceram! hehehehe

Um comentário:

Anônimo disse...

princesa
ainda estou trabalhando, 1 e 8 da madruga
so penso em vc.
vc ta bem ??
bj, te amo muito e torço por vc.
coragem e força
bj, bj, bj mae