quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Para a sócia! (Decidi publicar, mesmo com o atraso)





Este post de comidas é só para a Baby, minha amiga-sócia-companheira-confidente-chef, que fez aniversário no último domingo e eu nem liguei pra ela. A gente não esqueceu você não, ok? Cada restaurante que vamos, pensamos em você – Rodrigo até escreveu seu nome com o molho de espinafre!

A comida é o que tem salvado os dias do Rodrigo aqui (e ele come com a mão, que nem os indianos!), porque não gostou nadinha de Delhi. Minha missão é mostrar o lado bom da Índia até o dia 10, quando ele volta pra Barcelona.

Enfim, parabéns, Baby! Você é tão especial que é a única pessoa que eu conheço que faz aniversário duas vezes por ano! hehehe Seu presente já está na mala e foi a coisa que eu mais me diverti comprando. Comemoraremos no dia 1º de dezembro. Pede folga dessa cozinha aí de uma vez!

PS: Minhas unhas estão amarelas e meu cabelo cheira (fede) a curry.

Beijos.

Mais fotos de Agra (com texto e fotos novas!)





Mesquita ao lado do Taj Mahal


Interior do Forte de Agra

O marido no Forte!

Mais fotos de Agra que eu prometi, porque faltam palavras pra explicar o Taj Mahal. Amanha coloco o texto que escrevi, porque me esqueci de salva-lo no pen drive. Una tonta...

O TEXTO ESQUECIDO ONTEM:

Por uma série de contratempos que vou explicar em outro post, incluindo chuva torrencial e greve geral em Calcutá, temos que ficar no hotel esta tarde. Então resolvi aproveitar para colocar mais fotos dessa experiência única que foi conhecer o Taj Mahal. Segundo o Rodrigo, o lugar emana paz e ele se sentiu super bem lá (além de ser o único lugar limpo que viu por aqui). Já eu fiquei impressionada com tamanho amor! No fundo, no fundo, a essência da vida é esta mesma: amar e ter a sorte de ser amado... Mas vou deixar pra lá porque esta chuva me deixa sentimental demais.

Depois do Taj, como todo turista, fomos ao Forte de Agra, o mais importante da Índia. É uma construção impressionante também e seria super admirada e fotografada se não estivesse a 3 minutos do imponente Taj Mahal. É uma “disputa” desleal, qualquer coisa perderia a graça depois de uma visita ao mausoléu mais famoso da humanidade.

Há turistas do mundo inteiro, mas a maioria é de indianos mesmo. Enquanto os turistas estrangeiros pagam 750 rúpias (cerca de 14 euros), os indianos pagam apenas 30 rúpias (o que não chega a 1 euro). Em todos os monumentos e lugares turísticos aqui os preços são diferentes – o que me parece mais que justo para que a população local possa usufruir das belezas que possui. Para se ter uma idéia, 700 rúpias é mais do que ganha a imensa maioria dos trabalhadores por mês!

O único inconveniente é que, como em todos os cantos da Índia, há gente demais em Agra! A quantidade de vendedores ambulantes é impressionante e eles te perseguem de verdade. Um “não” curto e grosso não é o suficiente para o cara desistir da venda, ele te acompanha até o carro gritando e tentando fazer você comprar as mais diversas bugingangas – de réplica do Taj a chicotes! Ok, ok, isso faz parte e não acontece apenas lá em Agra.

A volta pra casa foi longa e cansativa. Repito: depois dessa temporada aqui, minha capacidade auditiva ficará sensivelmente prejudicada! Eles não param de buzinar porque simplesmente não usam o retrovisor e o motorista nunca sabe quem vem atrás ou dos lados... Rodrigo sentiu na pele o que eu venho dizendo há semanas: não existe tarefa fácil na Índia! Mas tudo bem, a gente releva qualquer barulho ou desordem depois de ter visitado um dos lugares mais fascinantes do mundo!

ALL YOU NEED IS LOVE.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

As loucuras do transito na India!







Lembram que falei aqui que tinha visto um Oto com 11 pessoas? A Priscila ate pediu pra colocar foto para "provar" a facanha. Pois aqui estao as fotos! Numa delas, eu e Rodrigo (sim, tenho testumunha!) contamos 17 pessoas. E 4 homens numa moto sem capacete. Isso e pura India!

Algumas imagens do conturbado transito nas rodovias indianas. Tiramos essas fotos na estrada de Delhi a Agra na segunda-feira. Os motoristas indianos, se aqui funcionasse a carteira de motorista por pontos, perderiam a mesma em um dia. E um terreno sem lei e cheio de animais!

Estamos agora no aeroporto de Calcuta e achei esse cyber cafe. O teclado nao tem acento, mas eu posso deixar essas fotos. Ate breve!




No Taj Mahal!!!!


Hoje foi um dia corrido e continuamos correndo. Nao da para escrever muito porque ainda nao fizemos a mala e vamos pra Calcuta esta madrugada.
Deixo aqui duas fotos do Taj Mahal, a construcao mais impressionante que vi na vida. Mais que piramides do Egito, Torre Eiffel, Cristo Redentor… So perde pra Sagrada Familia, que todos sabem que mora no meu coracao. E o melhor de tudo: construido por amor! Aproveitei muito o dia e nao poderia estar com melhor companhia!

Por pura falta de tempo, nao posso escrever mais. Mas Wikipedia me salva e conta um pouquinho da historia que eu prometi postar aqui:

"O Taj Mahal (em hindi ताज महल, persa تاج محل) é um mausoléu situado em Agra, pequena cidade da Índia.Foi recentemente anunciado como uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno em uma celebração em Lisboa no dia 7 de Julho de 2007.

A obra foi feita entre
1630 e 1652 com a força de cerca de 22 mil homens, trazidos de várias cidades do Oriente, para trabalhar no suntuoso monumento de mármore branco que o imperador Shah Jahan mandou construir em memória de sua esposa favorita, Aryumand Banu Begam, a quem chamava de Mumtaz Mahal ("A jóia do palácio"). Ela morreu após dar à luz o 14º filho, tendo o Taj Mahal sido construído sobre seu túmulo, junto ao rio Yamuna.

Assim, o Taj Mahal é também conhecido como a maior prova de
amor do mundo, contendo inscrições retiradas do Corão. É incrustado com pedras semi preciosas, tais como o lápis-lazúli entre outras. A sua cúpula é costurada com fios de ouro. O edifício é flanqueado por duas mesquitas e cercado por quatro minaretes.

Supõe-se que o imperador pretendia fazer para ele próprio uma réplica do Taj Mahal original na outra margem do rio, em mármore preto, mas acabou deposto antes do início das obras por um de seus filhos.

Apesar de sua opulência, o Taj Mahal é na verdade um gigantesco
mausoléu e não um palácio, como muitos pensam.Conta a lenda,que quem o visita,consegue achar o verdadeiro amor de sua vida, convivendo com ele ate a morte".

Nos proximos 10 dias estarei fora de Delhi. Amanha vamos pra Calcuta, depois passaremos 3 dias numa reserva de tigres de Bengala, depois vamos pra Darjeeling e tentaremos cruzar a fronteira do Nepal chegar o mais perto possivel do Monte Everest. Portanto, nao sei quando estarei aqui de volta! Tentarei postar fotos sempre que possivel.

sábado, 27 de outubro de 2007

Em defesa da boa Índia





Esta semana recebi um email que me deixou preocupada e até meio triste. Era de uma pessoa próxima que me dizia o seguinte: “Helena, tenho acompanhado seu blog e essa Índia é um lixo, hein? Não tenho nenhuma vontade de conhecer o país”. Se o meu blog passa esta idéia, é porque escrevo mal pacas, porque a Índia não tem nada de lixo. Na verdade, é uma terra cheia de surpresas e gente bacana. Lotada de problemas, como venho mostrando aqui desde setembro, mas com um lado humano e um potencial que poucos países hoje apresentam. Não é à toa que forma parte do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o bloco formado pelos 4 países emergentes que devem estar entre os grandes líderes da economia mundial até 2050, segundo tese proposta por Jim O’Neill, economista global da Goldman Sachs.

Muitos dos problemas enfrentados pelos indianos também sofrem os brasileiros: disparidade absurda entre as classes alta e baixa da população (concentração de muito dinheiro nas mãos de poucos); falta de segurança pública (na Índia, no entanto, o uso de arma de fogo é insignificante, ao contrário do que ocorre nas metrópoles brasileiras); alto nível de analfabetos; excesso de poluição, desemprego, entre outros. Enfim, os problemas comuns aos países “em desenvolvimento”.

As principais diferenças em relação ao Brasil são a sociedade indiana dividida em castas (em que o papel da mulher é quase nulo) e os conflitos religiosos. No resto, é mais do mesmo. Assim que, se a Índia fosse um lixo, o Brasil não ficaria muito atrás não. Conversando com um amigo outro dia, ele me contou a definição do economista Edmar Bacha para o Brasil: Belíndia. Ou seja, uma mistura de Bélgica com a Índia. É um bom termo para explicar, por exemplo, a zona de São Conrado no Rio com a favela da Rocinha em frente, e muitas outras áreas em todo o país.

Três meses aqui não serão suficientes para entender o complicado modo de vida e de pensar dos indianos. Principalmente porque isso passa pelo terreno da religião, em que é sempre difícil transitar. Há muitos paradoxos na sociedade indiana e os jovens de hoje estão “sofrendo” entre seguir a tradição e ser modernos. Está surgindo o jovem “híbrido”, a auto-definição que eles gostam de usar aqui. Uma coisa que me chamou atenção outro dia foi uma propaganda na TV, em horário nobre, de uma pílula abortiva, a “pílula do dia seguinte¨. Nunca vi uma propaganda dessa no Ocidente, onde essa pílula é quase tratada na clandestinidade. A propaganda atiçou minha curiosidade porque não há tabu maior neste país do que o sexo. Então tá combinado: o sexo é proibido, mas a pílula abortiva pode ser anunciada na TV como um chocolate ou máquina de lavar?

Por mais problemas de infra-estrutura e por mais caóticas que sejam as grandes cidades indianas, o país está no caminho da modernização. É difícil pra um ocidental enxergar essa “modernidade” porque não dá para visualizar o país 10 ou 20 anos atrás, quando os problemas sociais eram ainda mais díspares e o país era essencialmente rural. Apoiando-se no setor de Tecnologia da Informação, em Bollywood e no turismo, a Índia está deixando a pobreza de lado e tornando-se um mercado consumidor super atrativo aos investidores estrangeiros.

Além do lado econômico, a diversidade cultural e meio-ambiental faz da Índia um país único, ou melhor, faz da Índia vários países em um só. Tudo isso foi só pra dizer que a Índia é um luxo, basta apenas entender um pouquinho o funcionamento do caos!

As fotos são da diversidade religiosa indiana: uma procissão durante o Festival de Siva em Benarés e a mesquita de Jama Masjid em Old Delhi, a maior de todo o país.

PS importante: Rodrigo está chegando hoje, galera. Assim que pode ser que eu apareça por aqui nos próximos dias ou não! hehehe

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Volta a Delhi e à vida “normal”




Fotos das ruas de Benarés

Depois de passar o dia perambulando pelos mercados de Benarés atrás de presentes para minhas amigas e para o Mateus, decidi ir cedo para a estação de trem porque a cidade está lotada por causa do festival. Meu trem saía às 20h e eu cheguei à estação às 18h30. Pra não escrever muito, vou contar só o resumo da ópera: o trem atrasou e saiu às 2h da manhã! Fiquei todo este tempo naquela estação suja, lotada, com vacas e bezerros circulando entre a gente, com banheiros impossíveis de usar e comidas pingando óleo impossíveis de comer.

Finalmente dentro do trem, deitei e dormi sem choro de bebê do meu lado. Acordei às 9h e cheguei em Delhi às 18h - já estava escuro! Perdi um dia nessa viagem de trem... Cheguei em Old Delhi cansada, morta, com fome (era um trem especial para a volta do festival e não tinha cozinha), imunda. Como estava em Old Delhi, aproveitei para ir comer num dos restaurantes mais tradicionais da cidade chamado Karims, ao lado da maior mesquita da capital, um reduto de muçulmanos. O restaurante sai em todos os guias e sua comida foi eleita uma das melhores de toda Ásia pela Times Magazine. Matei a fome com tandoori roti (o pão mais gostoso que comi aqui!), frango com iogurte e kebab. Comi pra cacete e paguei 200 rúpias (menos de 4 euros). Voltei pra casa de Oto cansada, mas feliz por ter ido lá.

Nem acreditei quando cheguei em casa, tomei um banho, coloquei um pijama limpo e deitei na minha cama. Me senti realmente em casa, apesar de estar tão longe de Barcelona... Aqui continua tudo igual, a mesma rotina de estudos, leitura, faculdade. A única novidade esta semana é o frio gostoso na barriga ao pensar que o Rodrigo chega aqui neste sábado, depois de um mês e meio “separados”. Oba! Acho que ele vai gostar da Índia, como todo turista que passa apenas 15 dias nesse caos.



As fotos aí de cima são de uma clínica dental em Benarés. Fiquei impressionada com a sujeira e a informalidade do lugar. Não tem porta e dá direto na rua empoeirada, por onde passam vacas, búfalos, galinhas o tempo inteiro. Além disso, a cadeira do dentista é mais velha que Matusalém. Tenho pena do pobre coitado que tiver uma dor de dente nesta cidade. Não sei como é uma clínica dental em Delhi, mas imagino que deva ser bem mais “ocidentalizada” e limpa.

PS: Hoje é sexta-feira e estou morrendo de saudade das minhas amigas.
Mauro, é sempre um prazer ter voce aqui. No tinha lido seu comentário do dia 8 não. Muita saudade também. Vou buscar o velhinho!

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Viagem a Benarés – II (um domingo de emoções fortes)

O POST DE HOJE E DEDICADO ESPECIALMENTE AO MEU PAI. HOJE FIQUEI SABENDO QUE ELE TEM COMPUTADOR NO ESCRITORIO, ACESSA MEU BLOG E ATE TEM SKYPE! QUEM TEM O PRAZER DE CONHECE-LO SABE QUE ISSO E TODA UMA REVOLUCAO! ALEM DISSO, ELE SEMPRE ME PERGUNTA PELO GANGES!

IMAGENS DO RIO SAGRADO:











Olha a quantidade de lixo!!! Uma pena.



O dia começou cedo e com uma beleza inigualável. Acordei às 5h e fui pra beira do rio para ver o sol nascer. Como todo turista, paguei por um desses barquinhos para fazer a travessia de uma hora no Rio Ganges. O dinheiro mais bem gasto aqui na Índia, pela heterogeneidade das cenas que vi e das emoções que senti. O início foi bem calmo, com apenas poucas pessoas rezando na beira do rio e muitos turistas tirando fotos (japoneses por todos os lados). A partir das 7h, a coisa começa a esquentar e os Ghats ficam lotados de gente fazendo de tudo: lavando roupa, tomando banho, rezando, meditando, fazendo yoga... Perguntei ao carinha do barco se hoje estava tão cheio porque era domingo do Festival de Siva, mas ele disse que não, que é assim cada manhã.

Está mais que cientificamente comprovado que o Ganges é um risco à saúde pública (dado: são 1,5 milhão de coliformes fecais/100ml, quando o “normal” para uso é de menos de 500/100ml), mas eles não estão nem aí. Mergulham mesmo, se lavam, brincam, purificam-se no meio daquela merda... As imagens são lindas, a temperatura matinal nessa época do ano é ideal e a sensação de paz é grandiosa. Foi uma das poucas vezes aqui que realmente quis estar sozinha e aproveitar cada segundo.

Depois do passeio de barco e de muitas fotos, passei por um mercado de rua e segui as placas que indicavam uma padaria alemã com queijos e pães ocidentais. O lugar é uma gracinha, não tem mesa não, senta-se no chão em cima de almofadas e o café-da-manhã parecia do outro mundo pra mim: iogurte com granola e frutas, chá, baguete com geléia, manteiga, queijo e presunto!!!! Exatamente do jeito que eu gosto. Foi a primeira vez que comi presunto e pão de sal na Índia e saí de lá me sentindo melhor que nunca.

Passei o dia andando pelas ruas estreitas de Benarés vendo o agitado comércio local, comprando coisinhas e negociando cada centavo com os indianos que tentam fazer a gente de boba em cada compra, vendo as pessoas carregando os corpos em direção ao rio, desvencilhando-me das incontáveis vacas, bezerros e búfalos no meio do caminho... Finalmente encontrei a Índia que tinha lido nos livros e nos guias de viagens. Essa bagunça com gente e animais, hinduístas com o rosto pintado, pessoas rezando em cada esquina, templos coloridos onde milhões de diferentes santos são adorados, sujeira e bosta de vaca no chão, barulho infernal de buzina, gente cantando e te perseguindo para vender de tudo.

Almocei comida thai num restaurante delicioso perto do hotel e fiz uma siesta, porque ninguém é de ferro e é impossível o sol de 3h da tarde! De tardinha voltei a sair e estavam começando os desfiles do Festival de Siva por toda a cidade. Foi quando caí numa “armadilha” por pura ignorância. Sabia que a cidade vive numa permanente tensão religiosa, sabia que estava num bairro muçulmano e sabia que este fim-de-semana é particularmente complicado por causa do festival, quando muitos conflitos acontecem.

Acompanhando a “procissão”, acabei entrando junto com os hinduístas no coração do bairro muçulmano e foi minha pior experiência aqui. Senti na pele a tensão, os hinduístas cantando e dançando, os muçulmanos tratando de dissimular qualquer sentimento negativo e eu, cagada de medo. Qualquer estupidez ou provocação podem ser o estopim para o começo da confusão. No dia anterior, alguém lançou uma pedra em direção ao grupo hinduísta e houve brigas e feridos. Por uma sorte incrível, não houve violência hoje, mas eu entrei em pânico assim mesmo porque o clima não é nada amistoso. Meu sentimento era: pessoa errada, no lugar errado, na hora errada. Queria sair correndo, mas não havia espaço dentro da multidão, as pessoas me olhavam e me agarravam pelo braço e, quando finalmente consegui sair, sentei num restaurante pé de chinelo e chorei como uma criança, de medo, de nervoso, de angústia... Neste exato momento minha mãe me ligou e eu menti (mal) dizendo que estava tudo bem. Tinha o coração na boca, não sabia como voltar pro hotel e sabia que ela sabia que alguma coisa andava mal. Coisas de mãe.

Na Índia tudo é intenso, todas as coisas boas, mas também todos os sentimentos negativos. Para entender o tamanho do meu desespero (que tenho certeza de que foi mal explicado aqui), não queria estar em Barcelona ou Rio. Queria simplesmente nunca ter saído de São João Nepomuceno! Cheguei ao hotel e agradeci a todos os deuses hindus pela minha proteção divina, que é proporcionalmente tão forte quanto o meu “chip da loucura” (que, segundo minha mãe, foi implantado nos 3 filhos ao nascer!).

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Viagem a Benarés – I (19 a 22 de outubro)


Barraquinha de comida na estação de trem

Estação de trem de Nova Delhi
Trem enfeitado para o Festival de Siva (exterior)

Trem enfeitado para o Festival de Siva (interior)

Templo hindu no interior do trem


Interior do trem, compartimento onde ficam as "camas"


A viagem começou na movimentada e confusa estação de trem de Nova Delhi. A tal da “primeira classe” era bem diferente do que eu pensava. Não há cabines fechadas, são simplesmente compartimentos (não me vem outro nome à cabeça) com oito “camas” cada: 3 de um lado, 3 do outro e 2 na frente do corredor. Minha “cama” era a do meio e isso, para uma claustrofóbica como eu, não ajudou muito. Além disso, minha “maldição” com aviões funciona também em trens: no meu lado tinha um casal com um bebê de 45 dias apenas que chorou, ininterruptamente, de 22h às 2h! Não fiquei muito irritada porque pensei que o mesmo pode acontecer com o Mateus. Agora sou tia!

A viagem foi melhor do que eu esperava e o iPod é um grande companheiro! Chegando de manhã em Benarés, depois de 12 horas no trem, senti logo um clima diferente, meio provinciano e ainda mais caótico, fora que há animais por todas partes, das vacas sagradas a búfalos e macacos.

Encontrei um hotel, tomei banho, descansei um pouco e fui pra beira do Rio Ganges, onde, desculpem o plágio ridículo, eu sentei e chorei. É difícil explicar o que senti, mesmo em fotos e mesmo estando o rio poluído, imundo e sem oxigênio. A “Grande Mãe” dos hindus impressiona pela calma, pelo tamanho e pela maneira como é adorada.


Templo na Universidade de Benarés

Ghat na beira do Ganges


Andei por todos os “Ghats” tirando fotos (finalmente virei turista!), puxando papo, observando e sentindo cada detalhe. É o rio da vida e da morte dos indianos hinduístas. O Ghat mais impressionante (Harishchandra Ghat) é onde acontecem as cerimônias de cremação. Fiquei um tempão vendo todo o ritual: o corpo envolvido num pano ou plástico laranja ou dourado chegando carregado pelos familiares; a espera dos corpos na “fila”; a quantidade de madeira usada (isso é o que define o preço da cremação. Em geral, custa cerca de 3.000 rúpias = 55 euros); o responsável pela cerimônia; a ausência de mulheres locais; a abundância de turistas curiosos... É tudo impressionante e faz a gente pensar na vida toda, como qualquer outro contato com a morte. Fotos são proibidas e os turistas que se atrevem são rispidamente repreendidos pela falta de respeito. No final, os ossos são jogados no rio, assim como as cinzas.


Harishchandra Ghat (onde os corpos sao incinerados)

Benarés (também conhecida como Varanasi) é uma cidade muito mística onde prevalecem os hinduístas. Há redutos de muçulmanos e os conflitos são freqüentes; é conhecida por ser uma cidade “sensivelmente religiosa”. Especialmente neste fim-de-semana, a cidade está lotada de polícias nas ruas porque domingo é o Festival de Siva que os hindus comemoram ostensivamente. Há procissões, oferendas no rio, desfiles de imagens, dança, etc. Qualquer prevenção é pouco quando se trata da fé na Índia.

Como uma autêntica cidade hinduísta, foi difícil encontrar um lugar de comida não-vegetariana. Pobre das vaquinhas e das galinhas, mas eu gosto mesmo é de carne! Almocei uns bolinhos de arroz com sopa de coco num restaurante vegetariano. Mas à noite comi no bar do hotel sopa de frango e arroz com frango. Pensei: que sorte estar em um hotel não-vegetariano aqui. E logo entendi o porquê: estou hospedada no bairro muçulmano de Benarés!