quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Viagem a Benarés – II (um domingo de emoções fortes)

O POST DE HOJE E DEDICADO ESPECIALMENTE AO MEU PAI. HOJE FIQUEI SABENDO QUE ELE TEM COMPUTADOR NO ESCRITORIO, ACESSA MEU BLOG E ATE TEM SKYPE! QUEM TEM O PRAZER DE CONHECE-LO SABE QUE ISSO E TODA UMA REVOLUCAO! ALEM DISSO, ELE SEMPRE ME PERGUNTA PELO GANGES!

IMAGENS DO RIO SAGRADO:











Olha a quantidade de lixo!!! Uma pena.



O dia começou cedo e com uma beleza inigualável. Acordei às 5h e fui pra beira do rio para ver o sol nascer. Como todo turista, paguei por um desses barquinhos para fazer a travessia de uma hora no Rio Ganges. O dinheiro mais bem gasto aqui na Índia, pela heterogeneidade das cenas que vi e das emoções que senti. O início foi bem calmo, com apenas poucas pessoas rezando na beira do rio e muitos turistas tirando fotos (japoneses por todos os lados). A partir das 7h, a coisa começa a esquentar e os Ghats ficam lotados de gente fazendo de tudo: lavando roupa, tomando banho, rezando, meditando, fazendo yoga... Perguntei ao carinha do barco se hoje estava tão cheio porque era domingo do Festival de Siva, mas ele disse que não, que é assim cada manhã.

Está mais que cientificamente comprovado que o Ganges é um risco à saúde pública (dado: são 1,5 milhão de coliformes fecais/100ml, quando o “normal” para uso é de menos de 500/100ml), mas eles não estão nem aí. Mergulham mesmo, se lavam, brincam, purificam-se no meio daquela merda... As imagens são lindas, a temperatura matinal nessa época do ano é ideal e a sensação de paz é grandiosa. Foi uma das poucas vezes aqui que realmente quis estar sozinha e aproveitar cada segundo.

Depois do passeio de barco e de muitas fotos, passei por um mercado de rua e segui as placas que indicavam uma padaria alemã com queijos e pães ocidentais. O lugar é uma gracinha, não tem mesa não, senta-se no chão em cima de almofadas e o café-da-manhã parecia do outro mundo pra mim: iogurte com granola e frutas, chá, baguete com geléia, manteiga, queijo e presunto!!!! Exatamente do jeito que eu gosto. Foi a primeira vez que comi presunto e pão de sal na Índia e saí de lá me sentindo melhor que nunca.

Passei o dia andando pelas ruas estreitas de Benarés vendo o agitado comércio local, comprando coisinhas e negociando cada centavo com os indianos que tentam fazer a gente de boba em cada compra, vendo as pessoas carregando os corpos em direção ao rio, desvencilhando-me das incontáveis vacas, bezerros e búfalos no meio do caminho... Finalmente encontrei a Índia que tinha lido nos livros e nos guias de viagens. Essa bagunça com gente e animais, hinduístas com o rosto pintado, pessoas rezando em cada esquina, templos coloridos onde milhões de diferentes santos são adorados, sujeira e bosta de vaca no chão, barulho infernal de buzina, gente cantando e te perseguindo para vender de tudo.

Almocei comida thai num restaurante delicioso perto do hotel e fiz uma siesta, porque ninguém é de ferro e é impossível o sol de 3h da tarde! De tardinha voltei a sair e estavam começando os desfiles do Festival de Siva por toda a cidade. Foi quando caí numa “armadilha” por pura ignorância. Sabia que a cidade vive numa permanente tensão religiosa, sabia que estava num bairro muçulmano e sabia que este fim-de-semana é particularmente complicado por causa do festival, quando muitos conflitos acontecem.

Acompanhando a “procissão”, acabei entrando junto com os hinduístas no coração do bairro muçulmano e foi minha pior experiência aqui. Senti na pele a tensão, os hinduístas cantando e dançando, os muçulmanos tratando de dissimular qualquer sentimento negativo e eu, cagada de medo. Qualquer estupidez ou provocação podem ser o estopim para o começo da confusão. No dia anterior, alguém lançou uma pedra em direção ao grupo hinduísta e houve brigas e feridos. Por uma sorte incrível, não houve violência hoje, mas eu entrei em pânico assim mesmo porque o clima não é nada amistoso. Meu sentimento era: pessoa errada, no lugar errado, na hora errada. Queria sair correndo, mas não havia espaço dentro da multidão, as pessoas me olhavam e me agarravam pelo braço e, quando finalmente consegui sair, sentei num restaurante pé de chinelo e chorei como uma criança, de medo, de nervoso, de angústia... Neste exato momento minha mãe me ligou e eu menti (mal) dizendo que estava tudo bem. Tinha o coração na boca, não sabia como voltar pro hotel e sabia que ela sabia que alguma coisa andava mal. Coisas de mãe.

Na Índia tudo é intenso, todas as coisas boas, mas também todos os sentimentos negativos. Para entender o tamanho do meu desespero (que tenho certeza de que foi mal explicado aqui), não queria estar em Barcelona ou Rio. Queria simplesmente nunca ter saído de São João Nepomuceno! Cheguei ao hotel e agradeci a todos os deuses hindus pela minha proteção divina, que é proporcionalmente tão forte quanto o meu “chip da loucura” (que, segundo minha mãe, foi implantado nos 3 filhos ao nascer!).

2 comentários:

Javali disse...

Oi Helena Minha Pequena:

Está é minha segunda experiência em postar um comentário no seu blog (dia 8 de outubro). Essa coisa de comentar num blog é muita modernidade e de um escancaramento absurdo. Ainda sou mais um telefone. Sou definitivamente da tradição oral, mais que da escrita. Ou seja, sou filho de Pajé com capivara.

Apesar disto, adoro acompanhar suas aventuras mulçumanas -hinduístas. Que bom que vc voltou.

Beijos,

Maurom

Anônimo disse...

Princesa
vc é muito afoita!!!!caramba,de onde tirou isso??
como hoje de manha, naquele dia eu senti alguma coisa sim, e sempre que isso acontece peço a todos os anjos e santos que protejam vcs....
Fiquei preocupada, mas ao mesmo tempo confio nos meus "louquinhos " e vibro com eles.
bbj, bj, bj