terça-feira, 9 de outubro de 2007

O trânsito e a impunidade em Delhi




Poucas coisas me metem tanto medo na vida quanto cruzar uma avenida em Delhi. Os motoristas simplesmente são guiados pela própria vontade (ou pressa) e não por um conjunto de leis como se espera numa das cidades mais populosas do planeta. Além de pouquíssimos sinais de trânsito (que também não garantem nada, porque poucos são respeitados), a cortesia e o senso comum são inexistentes nessa cidade. O negócio é ultrapassar o motorista ao lado e chegar rapidamente ao destino – não importando nenhum dano ao carro (todos aqui são amassados) ou, no caso dos transportes públicos, o negócio é “quanto mais gente pagando, melhor” – não importando se, para isso, alguns serão mortos no caminho.

Escrevo isso em meio a um grande debate na sociedade e na imprensa depois da morte de 7 pessoas atropeladas por um motorista de ônibus da empresa privada Blueline no último domingo de manhã. Além dos mortos, 10 pessoas foram feridas e ainda continuam hospitalizadas. Já comentei aqui que os ônibus não têm paradas “oficiais”; os motoristas simplesmente diminuem a velocidade em certos pontos (no meio da rodovia mesmo, não no acostamento) para que as pessoas saltem para dentro do veículo. É uma cena dantesca pelo perigo da situação.

O acidente do último domingo (cinco das vítimas eram mulheres e uma era uma criança de 5 anos) foi causado por um motorista que tentava se aproximar da calçada para que subisse no ônibus o maior número de passageiros. Ele simplesmente arremessou o veículo contra as centenas de pessoas que estavam esperando por transporte no bairro de Badarpur. Os que assistiram à cena e não foram mortos ou feridos sentaram o cacete no motorista irresponsável, que acabou parando no hospital! Mesmo completamente contra QUALQUER tipo de violência, quase não dá pra pensar em outro tipo de reação imediata que não seja dar uma porrada na cara de um sujeito que está dirigindo um ônibus E-NOR-ME e não “enxerga” uma quantidade absurda de pessoas na frente!!!!! Mais um dado: ele não tinha nenhum resquício de álcool no sangue.

Mas se você pensa que isso é um fato isolado, não é não! Neste ano, até o dia de ontem (terça), havia 93 vítimas fatais causadas por ônibus desta mesma empresa apenas. Em 2006, foram 122 e, em 2005, 160, segundo a “Traffic Police” local. Os números de multas recebidas pela Blueline durante o ano até o dia 30 de setembro impressionam. Vou citar alguns apenas: 4.555 multas por “direção perigosa”; 8.500 por “dirigir sem cinto de segurança”; 57 por “fumar enquanto dirige”; 10.500 por “transportar pessoas nas portas e do lado de fora do veículo”.

Os policiais de trânsito aqui têm poder para suspender por até um 1 mês os motoristas que infringem as leis sem necessidade de nenhuma consulta a superiores. No entanto, eles fazem vista grossa porque a Blueline é uma das mais poderosas empresas do país. O título da matéria no The Times of Delhi de ontem era simplesmente “Why Blueline devils don´t fear law”.

Talvez quem leia isso pode pensar nos trânsitos de Rio e São Paulo e fazer comparações, mas eu garanto que não existe comparação plausível! Depois de Delhi, cada vez que eu for ao Rio vou achar que estou no trânsito de Genebra!
PS: No jornal de hoje (quarta) vi que mais duas jovens foram mortas ontem por ônibus da Blueline!

Um comentário:

Anônimo disse...

Oiii socia agora ja sei por que a galera ta com medo que vc nao volte, como seu sonho sempre foi ser guarda de transito.Eles estao com medo de vc ter encontrado o paraiso!!! Essa é pra vc esquecer o transito.
“Sonho é comer um churrasco preparado por gaúchos, numa praia do nordeste, com mulheres mineiras, organizado por paulistas e animado por cariocas.”

“Pesadelo é comer um churrasco preparado por mineiros numa praia gaúcha, com mulheres nordestinas, organizado por cariocas e animado por paulistas.”
bjs BB